IGREJA DEVOCIONAL, SEM PERDER O PROFETISMO - Revista Camocim

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

IGREJA DEVOCIONAL, SEM PERDER O PROFETISMO

"Grandes manifestações religiosas precisam ter uma repercussão concreta na transformação da sociedade, caso contrário não passarão de "fogo de palha", um momento de euforia passageira".


Essa conciliação não só é possível, mas necessária para que nos aproximemos do Projeto de Jesus Cristo. O devocionismo e o profetismo são duas vertentes que podem se complementar e contribuir de forma significativa para a edificação do Reino de Deus, desde que consigam transcender toda e qualquer forma de fundamentalismo e reducionismo.

As práticas devocionais, parte integrante da religiosidade popular, estão inseridas sobremaneira na cultura brasileira, principalmente, nos pequenos centros urbanos. As festas religiosas de padroeiros e padroeiras, as procissões e peregrinações, novenas e demais práticas religiosas comumente percebidas em nossas comunidades expressam o sentimento religioso e a piedade da alma do povo que busca, nesses elementos, saciar a sede do Deus vivo. Dom Canísio Klaus, bispo de Diamantino/MT, disse certa vez: "A decisão de caminhar em direção ao santuário já é uma confissão de fé. O caminhar é um verdadeiro canto de esperança e a chegada é um encontro de amor. O olhar do peregrino se deposita sobre uma imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. A súplica sincera, que flui confiante, é a melhor expressão de um coração que renunciou à auto-suficiência, que sozinho nada pode. É por isso, que muitos, em diferentes momentos da vida cotidiana, recorrem a algum pequeno sinal do amor de Deus: um crucifixo, um terço, uma imagem, uma vela que se acende para acompanhar um familiar enfermo, um Pai Nosso recitado entre lágrimas, um olhar confiante a uma imagem querida de Maria e de algum outro santo, um sorriso dirigido ao Céu em meio a uma alegria singela".

Esse vasto arcabouço de práticas e costumes religiosos, contudo, precisa ser acompanhado de um processo sistemático de amadurecimento na fé. Urge uma catequese que consiga fazer o elo de ligação entre FÉ E VIDA, IGREJA E SOCIEDADE, evitando, portanto, a perigosa dicotomia que tanto nos distancia de uma visão mais ampla da evangelização. É necessário dar um passo a mais e entender que as grandes manifestações religiosas precisam ter uma repercussão concreta na transformação da sociedade, caso contrário não passarão de "fogo de palha", um momento de euforia passageira.

Hoje mais do que nunca precisamos buscar o equilíbrio pastoral e eclesial, buscando no cotidiano ser "Marta e Maria" nas diversas circunstâncias da vida. O Evangelho não se reduz a um projeto de mudança político-social, muito menos a uma mística desencarnada. A evangelização precisa despertar o protagonismo do povo de Deus, contribuindo para que ele seja sujeito e não objeto da evangelização.Uma prática religiosa desprovida de profetismo e amadurecimento pastoral pode produzir cristãos passivos e alheios aos desafios deste mundo contemporâneo, uma espécie de rebanho subserviente que não consegue dar um passo sem o aval e a autorização de seus pastores.
Afinal de contas, que Igreja queremos ser?!

César Rocha
Bacharel em Serviço Social, Graduando em Filosofia e Coordenador do CNLB- NE I