
O POVO - A reforma no processo de nulidade matrimonial, proposta pelo papa Francisco, já é considerada “uma das maiores mudanças” no pensamento da Igreja Católica dos últimos dois séculos. Que significados o senhor atribui a esta mudança?
Frei Betto - O papa Francisco nos surpreende a cada dia, tornando a Igreja Católica mais fiel a Jesus e mais próxima do povo. Facilitar o processo de nulidade matrimonial é permitir que muitas pessoas reconstruam sua vida amorosa e conjugal. Outrora cada casal, para obter direito à nulidade, tinha que recorrer a Roma, o que só era possível aos mais ricos. Agora o direito se estende a todos que estabeleceram relações conjugais equivocadas e contrárias aos direitos humanos.
OP - O papa Francisco é um papa contemporâneo? Ele, de fato, está conseguindo restabelecer o diálogo da Igreja com questões dos tempos atuais?
Frei Betto - O fato de Francisco vir “do fim do mundo”, como declarou ao ser eleito, e de uma Igreja latino-americana marcada pela pobreza e pela desigualdade social, o torna mais sensível à causa dos pobres, que foi a principal causa de Jesus. Enquanto João Paulo II era um diplomata; Bento XVI, um teólogo; Francisco é pastor. E é sem dúvida o principal estadista no mundo de hoje. Ninguém o supera em credibilidade e atuação eficaz, como no caso da reaproximação entre EUA e Cuba, após anos de hostilidade e agressão estadunidense à ilha socialista.
OP - Que expectativas o senhor tem sobre a continuidade das ações do papa Francisco na Igreja? Que outras questões seculares pedem mudanças de pensamento urgentes e que o papa é capaz de realizá-las?
Frei Betto - Espero que o Sínodo da Família, no próximo mês de outubro, em Roma, debata as questões que, há séculos, são consideradas tabus na Igreja Católica, como o direito de os divorciados terem acesso aos sacramentos; o uso do preservativo; a união de homossexuais; os novos perfis de família etc. Temos que orar muito pelo papa Francisco, pois seus inimigos, em países como os EUA, assim oram por ele: “Senhor, iluminai-o ou eliminai-o”.
O Povo