“E ACASO EXISTIRÃO OS BRASILEIROS?” - Revista Camocim

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

“E ACASO EXISTIRÃO OS BRASILEIROS?”


Por Júnior Santiago

Carlos Drummond de Andrade é um escritor mineiro nascido na cidade de Itabira. Ele além de tantas outras grandes coisas geniais para a nossa literatura e questionamentos de vida, ele escreveu um poema chamado: Hino Nacional. E existe uma frase nesse poema que diz o seguinte: “E acaso existirão os brasileiros?”.

Como pedra no sapato, ou melhor, como “pedra no meio do caminho” o poeta com apenas uma frase conseguiu me questionar e perturbar ao mesmo tempo. Ora, essa frase contida no poema é uma cruel e severa provocação ao povo brasileiro. Dessa forma nos faz repensar nossa identidade. Talvez por perceber essa consciência adormecida, o autor queira trazer à tona o que nos torna brasileiros.

O que me torna brasileiro? Mais do que uma palavra digitada na carteira de identidade o que me traduz como ser do Brasil é meu sentimento de patriotismo. E garanto que esse sentimento de patriota ultrapassa e muito torcer pela seleção em uma copa do mundo ou se chatear com algum atleta brasileiro que não conseguiu uma medalha nas olimpíadas.

Patriotismo é entender com prioridade aquilo que é prioridade para meu país. Ok, um discurso fechado em palavras bonitas não quer dizer muita coisa, no entanto atitudes simbolizam muito mais e denunciam aquilo que se é com a real grandeza do ser. Existe de fato uma identidade brasileira. Mas onde ela está?

O próprio poema fala em sua primeira frase: “Precisamos descobrir o Brasil!”. É antes de qualquer coisa, um apelo. É necessário apelar para que se busque uma real descoberta do que é o nosso país. 
E como não sou nenhum crítico literário, pelo contrário (rimou sem eu perceber); antecipo que é apenas uma opinião de quem leu esse texto de Drummond e se emocionou muitíssimo com aquilo que leu. Afinal, o texto nos remete a várias coisas que são importantes em nosso país.
Se ele começa dizendo que é importante descobrir o Brasil. Mais na frente mostra que é preciso: colonizar, educar, louvar e adorar. 

Depois de tudo isso, a última estrofe do poema; àquele no qual deu início a essa pequena reflexão; a último estrofe do poema nos manda esquecer do Brasil. Uma dura crítica a nós brasileiros. Mas por que se esquecer do Brasil? Aqui nosso poeta avisa que é pra esquecer aquele país que se vê nos livros, nos discursos dos sociólogos, dos pesquisadores, dos historiadores, esquecer o Brasil retratado no hino nacional oficial, esquecer o Brasil romântico (ou romanceado) em obras como “O Guarani”.
Esquecer o Brasil ideal e lembrar-se do Brasil real. Do país que precisa de mim como brasileiro. Do país que respeita suas diferenças. Do país que não tem medo de olhar para os problemas e na medida em que se olham os problemas arregaça as mangas para resolver os problemas. Nesse caso, é o Brasil que mostra a sua cara, já dizia Cazuza. 

Me choca perceber que a maioria das pessoas tem uma visão deturpada do que é ser nacionalista. E ao final disso que acabo de escrever; fico chocado ao conferir que não escrevi nenhuma novidade. Nada de novo. Nenhum segredo. 

Gostaria de ser surpreendido positivamente pelos brasileiros. Ultimamente só tenho tido demonstrações de mesquinhez e mediocridade (claro que não posso generalizar), mas não fecharei os olhos para o que a “elite brasileira” faz com nosso país alegando ser o melhor para todos. Garanto que meu espírito de nacionalista não me faz usar as cores da bandeira de maneira oportunista.
Quero que os oportunistas deixem de usar o Brasil como pretexto para alcançarem seus objetivos vis, sórdidos, amorais, ignóbeis e fúteis. Aos calhordas de plantão apenas um recado: O Brasil tem o coração valente!

Júnior Santiago é camocinense, graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula.