“CABRA MARCADO PARA MORRER, VAMOS: ACORDE, LEVANTE, LUTE.” - Revista Camocim

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

“CABRA MARCADO PARA MORRER, VAMOS: ACORDE, LEVANTE, LUTE.”

Por Júnior Santiago

Quando criança eu costumava ouvir músicas de um cantor chamado Edson Gomes e uma delas tem como título: “Acorde, Levante, Lute”. Também foi na infância que assisti ao filme com esse nome: “Cabra Marcado Para Morrer”. E penso que o título é muito propício ao conteúdo do texto de hoje. Mas pretendo começar o escrito com o trecho de uma música da banda Paralamas do Sucesso, que é: “Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo, sem saber o calibre do perigo; eu não sei de onde vem o tiro”.  

As pessoas que resolvem acordar, levantar e lutar acabam com o tempo sendo marcados para a morte e a qualquer momento pode ser o momento em que o tiro acertará sua luta. Luta que infelizmente é lutada na solidão de quem não teve medo de sonhar, de quem teve a coragem de viver, de quem não se prendeu no tempo e espaço achando que o “salvador da pátria” viria, mas que resolveu por conta própria dentro das próprias forças de algum modo salvar sua pátria e também a pátria minha. 

Cada vez mais que o tempo passa, estou me convencendo que o preço da liberdade é difícil de ser pago por nós. Poucos estão dispostos a encarar a cruel realidade que é ser livre; afinal ser livre não é simplesmente desregradamente fazer o que vier à cabeça sem se importar com as pessoas que nos rodeiam. É justamente o contrário; ser livre é a ação que se preocupa consigo e ao mesmo tempo com os outros.

E o nosso país historicamente tem sido “o escravo que pensa que é livre”; ser quase livre é pior que a total escravidão. Alguns poucos heróis da vida cotidiana de algum modo furam esse estigma de quase livres. E ao mesmo tempo em que conseguem furar esse bloqueio e com o passar do tempo precisam pagar o caro preço da liberdade, tornam-se alvos daqueles que não tem coragem de apertarem o gatilho. Tornam-se alvos daqueles que mandam outros para a guerra. Tornam-se alvos de covardes e mimados senhores feudais que não suportam ver alguém tendo algo a dizer e a fazer os outros refletirem a respeito. 

Por isso que sempre defenderei a educação, a leitura, a instrução, o esclarecimento, a abertura do horizonte. É conhecendo a regra do jogo que saberemos qual é a melhor estratégia a ser tomada.
E refletindo um pouco sobre a realidade do Brasil, chego à mórbida conclusão que o cidadão brasileiro, o trabalhador brasileiro é vítima dos desmandos do coronelismo, do império decadente, dos ricos incoerentes; até aqui nenhuma novidade. Infelizmente as pessoas se alienam e fingem que nossa violência coletiva, essa ânsia de eliminar o espinho que me fura é mais uma prova da falsa realidade pintada em nossas frentes.

Camocim tem passado por dias vermelhos. Dias difíceis. Dias de medo. Dias de coerção. Dias que a imposição pretende superar a espontaneidade. Mesmo morando longe não deixo de me emocionar com o que acontece nas entranhas da minha terra natal.

E é para acabar com isso que precisamos fazer manifestações. Unidos sempre se pode mais. Quantas mortes serão necessárias para se entender que já se matou demais? E mais do que indignação ou revolta ou surpresa ou tristeza, meu sentimento é o de ter voltado à ditadura. E todos os que pretendem romper com isso terão um fim trágico? Espero que não. 

Camocim: Acorde, levante, lute. 

Júnior Santiago é camocinense, graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula.