A INTERNET E O DESERTO DA ÉTICA - Revista Camocim


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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A INTERNET E O DESERTO DA ÉTICA

Da Coluna Menu Político, no O POVO deste domingo (9), pelo jornalista Plínio Bortolotti:

Na semana passada ganhou repercussão nas redes sociais e em notícias nos jornais a detenção de um advogado, uma médica e um estudante de medicina por furtarem um cone de sinalização. Segundo informações da polícia, eles voltavam da festa de formatura de um deles, quando resolveram pegar o objeto. Como eram dez horas da manhã, possivelmente devem ter passado a noite comemorando e voltavam para casa, quando resolveram subtrair o cone “por brincadeira”, sendo flagrados por um agente.

Como as coisas nunca passam sem um bom debate no O POVO questionei, nas nossas listas internas, se era correto, do ponto de vista ético, expor o nome de pessoas em um crime de menor potencial ofensivo, mas que poderia marcá-las pelo resto da vida, já que os implacáveis arquivos da internet são permanentes, eternos.

Antes de continuar, um parêntese: o fato de eu questionar se era lícito divulgar o nome dos infratores nada tem a ver com o fato de eles serem de “classe média”. Há muito tempo, pelo menos desde que exerci a função de ombudsman (2005 a 2007), faço esse tipo de questionamento. Escrevi várias vezes, em comentários internos e na coluna externa, críticas à divulgação de nome de jovens da periferia, devido a delitos que seriam vistos como “brincadeira”, se fossem praticados por gente da classe média. Além disso, apontava que os meios de comunicação costumam reproduzir, sem muito escrúpulo, declaração de policiais acusando adolescentes mortos de “traficantes” ou “bandidos”, como se uma “briga de gangues” ou um “acerto de contas” justificasse o justiçamento, ou a ação mortal da polícia contra eles.

Mas é o seguinte: Se a internet não inaugura uma nova ética para o jornalismo, já que seus princípios fundamentais devem ser aplicados tanto no impresso quanto nas mídias eletrônicas, sem dúvida, ela traz novos dilemas.

Se há vinte anos uma estripulia qualquer fosse para a página de um jornal, aquilo seria lido, talvez comentado aqui e acolá, mas iria para os arquivos físicos e – passado algum tempo – ninguém mais se lembraria do ocorrido.

Porém, agora, com os arquivos permanentes da internet, vejam como fica a situação. A ocorrência deu-se com um rapaz recém-formado e outros dois em início de carreira, pois todos jovens. Imaginem se um deles – daqui a dez anos, quando esse caso já estará no passado – vai participar de uma seleção de trabalho, o empregador resolve dar uma busca na internet, e verifica que o candidato é um “ladrão” de bens públicos. É justo que uma molecagem da juventude prejudique a vida de uma pessoa para sempre?

Portanto, creio que os jornalistas, mais do que nunca, devem se questionar: podemos continuar a noticiar fatos banais, mas que podem marcar negativamente a vida de uma pessoa? Podemos continuar a publicar suspeitas sem uma verificação exaustiva? Temos o direito de veicular acusações, que lá na frente podem se revelar falsas?

Vejo com certo pessimismo resposta para esses perguntas. Em um tempo em que a rapidez para publicar é tomada como valor absoluto, e que as redes e que sociais assemelham-se a uma verdadeira terra de ninguém, clamar pelo debate ético equivale cada vez mais a pregar no deserto.

(Via blog do Eliomar)