MUNDO PÓS-MODERNO E A BRICOLAGEM - Revista Camocim

sábado, 11 de julho de 2015

MUNDO PÓS-MODERNO E A BRICOLAGEM

Bricolagem é um termo relativamente novo. É uma espécie de “colagem” de várias outras coisas que possibilitam depois de unidas fazerem algo novo e diferente. E nosso mundo atualmente existe em uma realidade pós-moderna, portanto pode-se dizer que tem como maior característica a bricolagem. Afinal, não há mais uma única referencia onde se possa abraçar como conceito absoluto de vontade. Hoje em dia são muitas referências que juntas foram uma grande colcha de retalhos referenciais de uma realidade “bricolada”. Pega-se algo do hinduísmo, junta com algum outro conceito que leu em algum livro de “autoajuda”, soma mais aquilo que a internet lança como “moda” e mais uma outra série de coisas e somam assim o modo de pensar das pessoas hoje em dia.

Se olharmos para a história com um pouco de atenção para isso percebe-se que não era assim até pouco tempo atrás. Pode-se dividir rapidamente a “história civilizada” em dois momentos distintos, são eles: o momento da cristandade e o da modernidade. Atualmente há uma transição para o momento da pós-modernidade. 

Sendo assim; na cristandade pode-se dizer que a grande referência de valores e costumes era a instituição religiosa: a Igreja. Ditava as regras e com o argumento divino conseguiu mostrar seu poderio dentro da realidade da Idade Média. E ao contrário do que é propagado a Idade Média não pode ser considerada idade das trevas, ora fora naquele intervalo de tempo que tivemos expoentes universais: Nicolau Maquiavel, Michelangelo, Leonardo da Vinci, Botticelli, Giordano Bruno etc; sem contar que foi também o início das grandes navegações portuguesas e espanholas que mostraram que o mundo era mais do que a Europa, (quanto à exploração das novas terras isso é outro departamento).

Os anos passam com eles o movimento do Iluminismo surge e vai aos poucos impondo a Idade Moderna. Se na cristandade o ponto de partida era Deus e tudo que pendia para o divino; agora o ponto de partida era o próprio homem e a razão humana. As respostas não eram mais sustentadas com os argumentos da fé e sim com motivos plausíveis e com raciocínio lógico. Nessa época tivemos grandes pensadores de destaque, com os alemães Friedrich Nietzsche e Immanuel Kant são os principais nomes; também o francês René Descartes e seu famoso método cartesiano; entre outros grandes. Aqui o estado é o grande regulador das leis e como direcionar a vida. Não era “aceitável” nenhum líder divino para dar as normas e sim um líder escolhido através da razão. 

E hoje? Que momento histórico é vivenciado por nós? Nosso momento histórico pode ser considerado o de transição (passagem da modernidade para a pós-modernidade) e seu grande sinal é esse mundo coberto de bricolagens.

Temos nos dias atuais, o que provavelmente são os dois meios de comunicação mais democráticos da história: a internet e a televisão. Com ambas podemos ter as informações de qualquer parte do mundo dentro de poucos minutos. Algo que há 25 anos se fosse falado era tido como alvo de chacota. É isso o que possibilita ao mesmo tempo tantas referências. Atualmente uma única resposta não mais satisfaz. 
Nosso quadro de realidade pode ser colocado com um quadro em constante crise, não somente das instituições reguladoras de pensamento do passado, porém uma crise conceitual. Afinal, a resposta de agora talvez não satisfaça daqui poucos minutos. E apesar de ser clichê é bem verdadeiro dizer que todo ponto de vista é à vista de um ponto. Cada fato dos dias de hoje são analisados dentro de uma lógica própria de um universo particular contido em cada pessoa que vê o fato. E dependendo das referências bricoladas de cada um a análise há de modificar.

Ninguém está livre disso. Qualquer um pode se satisfazer com esse banquete de referências: pegar algo da cultura Maia (alguém lembra o ano de 2012 e o fim do mundo?); a acupuntura feita por tantos (técnica milenar da China); a ioga de outros tantos (típica dos monges orientais); sem contar nas expressões que foram sendo incorporadas em nosso vocabulário e exemplos não faltam.

Esse quadro colocado aqui nesse texto (ainda que de maneira simplória) nos auxilia perceber um pouco o chão em que nossa “sociedade civilizada” está pisando. A pós-modernidade não é melhor ou pior que as duas que a antecederam (cristandade e modernidade) é apenas a nossa resposta ao mundo que se hoje tem em mãos. Portanto não é nenhuma vilã, contudo pode ser uma protagonista de peso se bem posta à prova. E como dizia Hebe Camargo: “é o que tem pra hoje”.

Júnior Santiago

Camocinense, Graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula