ATREVE-TE A PENSAR - Revista Camocim

segunda-feira, 27 de julho de 2015

ATREVE-TE A PENSAR

Ser intelectual dói, e não são todos os que estão dispostos a encarar esse sacrifício. Contudo existem àquelas pessoas que pensam que enganam. Também tem aqueles que enganam muito bem a ponto de enganarem-se a si mesmos. E talvez haja uma deturpação no senso comum do que seja ser intelectual.

Comecemos pela definição mais óbvia, a do dicionário: palavra que deriva do latim, intellectualis, adjetivo e indica experiência sensível considerada de grau cognitivo superior. Em resumo: alguém que utiliza sua mente de modo acima da grande maioria. Alguns exemplos existem: Albert Eisten, José de Alencar, Patativa do Assaré (sim, não se espante), dentre muitos outros que poderiam ser enumerados dentro desse texto só para ocupar espaço, mas prefiro não fazer isso.
Ter tido a chance de cursar filosofia me fez abrir um pouco o horizonte para algumas questões. Eu diria que essa é com certeza uma questão aberta. Mas, em um tempo como o nosso onde a velocidade impõe uma realidade cada vez mais mutável e mutante. Talvez por isso eu tenha sentido inclinado a reler um livro bem sugestivo para esse tema: A Metamorfose do alemão Franz Kafka (grande intelectual), contudo essa leitura está longe de ser algo difícil. 

E já na primeira frase do livro somos surpreendidos com o clímax da história. Normalmente um livro começa fazendo a ambientação da história apresenta os personagens e só depois disso é que a história realmente acontece. Por isso que é difícil ler o início da história de um livro. No entanto nessa obra não há nada disso. A primeira frase já revela o principal fato do livro e de onde toda a história irá girar ao redor, a frase é a seguinte: “Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado em um gigantesco inseto”. 

A maioria das pessoas que fala desse livro diz que ele se transforma em uma barata, entretanto, no livro A Metamorfose de Franz Kafka o protagonista não se transforma em uma barata e sim em um gigantesco inseto; o autor deixa em aberto para o leitor imaginar no inseto que for conveniente. Aqui podemos identificar alguns pseudo intelectuais. Arrisco-me dizer inclusive outras duas dicas de livros que podem ser armas para desmascarar esses charlatões que permeiam nossa sociedade: no livro “Os Miseráveis” de Victor Hugo não se passa na revolução francesa e em outro livro clássico, dessa vez da escritora Jane Austen, chamado “Razão e Sensibilidade” não há cena de duelo. É assim que pegamos os pseudo intelectuais de plantão que dizem ler os clássicos.

Bom, eu também não posso me eximir de qualquer culpa. Algum dia posso ser desmascarado também nessa área; todavia voltando à primeira frase desse texto: ser intelectual dói. Sim, dói porque não são todas as pessoas que estão dispostas a encarar a realidade, refletir sobre ela e mais que isso: expor sua opinião a respeito da situação. Poucos estão dispostos a encarar as consequências de seus atos. Poucos querem como diz o ditado: “botar a cara no sol”. Realmente é mais fácil ficar na sombra, na penumbra, não se expor é sempre mais cômodo. 
Quem se expõe está sujeito às reações destemperadas de pessoas mais destemperadas e despreparadas ainda. No entanto me exponho ao afirmar que vale a pena; paga-se um preço relativamente alto por isso, no entanto vale a pena. Não sei se digito como experiência própria, o leitor que tire as próprias conclusões. 

O que sei é que até a fé cristã (que é a que eu acredito) diz: “tome tua cruz e siga-me” (Lc 9, 23). Jesus Cristo quando ressuscita no evangelho de Mateus e aparece aos discípulos Ele diz que estará sempre presente, porém em momento algum fala que será um caminho fácil e sem problemas aos que resolvem seguir a Cristo. Contudo é a presença de Jesus e a fé n’Ele que diferencia nossa conduta dos outros frente as dificuldades.  

Sendo assim, utilizando as informações do início, meio e fim desse texto pode-se deduzir que, ser intelectual é ser honesto consigo mesmo ainda que doa. Ser intelectual é para poucos porque nos acostumamos a uma realidade baseada em sensações efêmeras e pouco profundas. Quando nos dispomos a nos aprofundar nas relações humanas de amizade, companheirismo, honestidade, verdade aí sim estamos sendo intelectuais.

Ler ou não uma pilha de livros é apenas um detalhe a mais para nossa mente apreender conhecimento. Decorar informações é diferente de ser intelectual. Mas, eu que não sou bobo nem nada, busco as duas coisas, afinal como diz um ditado atual: “a minha mãe deixa”.

 Júnior Santiago
Camocinense, Graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula.