TEMPOS E VIOLÊNCIA - Revista Camocim

sábado, 20 de junho de 2015

TEMPOS E VIOLÊNCIA

Na canção “sonho impossível” feita por Chico Buarque há uma frase que me faz refletir muito, a frase seria: “quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz?”. Citação bem profunda e pertinente aos dias de humanidade cada vez mais desumanizada, eu diria. Afinal, nossa realidade (brasileira) está em uma situação crítica no aspecto moral. Todos nós clamamos por paz e coisas do tipo, mas nosso ser sanguíneo nos coloca em situações onde a violência é o que realmente nos fascina.

Esse nosso desejo humano por produzir grandes dramas é impressionante. Então, resolvi juntar em uma espécie de “censo” o que de mais trágico o “homem civilizado” fez ao longo de sua trajetória dentro desse planeta Terra.

Façamos então rapidamente uma conta sobre o que a “humanidade civilizada” nos entregou como produto de tragédia. À primeira vista pode-se crer que o século XX e suas duas guerras mundiais fora o mais sangrento da história da humanidade. Contudo, olhando para a história dos seres humanos a partir do que se pode ser considerado civilização como um todo, pode-se notar que o século XX e somando com esse início de século XXI; não tem sido momentos históricos tão cruéis assim. Então, comecemos a contar; calculadora na mão.

E ao contrário do que muitos falam, não estamos em uma época horrível. Mas, na realidade não é tão “horrível” assim. E ao contrário do que se expus no parágrafo anterior, o século XX não foi tão sangrento. Admite-se que as duas guerras consideradas mundiais (a primeira de 1914 a 1918; a segunda de 1939 a 1945), fizeram cerca de cem milhões de mortos, ou pouco mais que isso; podendo acrescentar mais cerca de dez milhões nos gulags russos; nos campos da China uns vinte milhões. Somando temos cerca de cento e trinta a cento e trinta e cinco milhões de falecidos, apesar de ser um número assustador, em se tratando de guerras ao longo da história não é “algo tão impressionante assim”. São números aproximados de tragédias no mundo inteiro.

No entanto, se pensarmos que no século XVI espanhóis e portugueses conseguiram (sem câmaras de gás ou bombas), fazerem desaparecer mais de cento e sessenta milhões de índios só na América Latina, deve ter dado muito trabalho matar esse número exorbitante de pessoas apenas usando machados e espingardas de baixo calibre. E claro que tinham o apoio das lideranças da época, mas mesmo assim foi realmente um “grande feito” em apenas um único continente.

Não esquecendo também das escravidões. Assim, vemos que holandeses, alemães, ingleses, franceses e americanos talvez tenham se inspirado nesse exemplo e também massacraram juntos mais de sessenta milhões de africanos ao utilizarem o mecanismo de escravidão para “vencerem na vida” explorando as terras descobertas por Colombo. 

Somando então temos na conta: mais de duzentos e vinte milhões de mortos no século XVI apenas em um único continente (quase o dobro do século XX no mundo inteiro), ou seja, o passado já foi bem pior. O maior massacre da história, em termos de número, já aconteceu e foi justamente nas terras que nos rodeiam que chamamos de América Latina e não vi ainda televisão alguma falar a respeito disso. Sequer um mísero museu desses holocaustos fora organizado para lembrarem-se dos índios e negros que morreram nesse continente onde moramos.  
A história da humanidade é uma história de horror, mas pouco nos lembramos desses horrores que afetam os desconhecidos de nós tornando-nos assim indiferentes à fome que acontece na Somália, por exemplo. É importante que percebamos nossos erros do passado para podermos resolver nosso futuro transformando nosso presente em “presente”. 

E como questionamento sobre esses frios dados mostrados aqui, ouso querer saber: Quantas mortas ainda serão necessárias para que possamos entender que já se matou demais? Pondo a mão na consciência, ousemos refletir um pouco sobre isso.

Júnior Satiago

(Camocinense, Graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula)