OS 50 TONS: LEITURA PRIMÁRIA, PEDESTRE, RASA. - Revista Camocim

sábado, 13 de junho de 2015

OS 50 TONS: LEITURA PRIMÁRIA, PEDESTRE, RASA.



De tempos em tempos surge uma espécie de “produto” que se torna exemplo de bom gosto e não conhecer a respeito é estar basicamente “excluído” das rodinhas de conversas entre pessoas que a priori tem aquilo que ousamos proclamar de: bom gosto. A última “moda” tem sido a trilogia: 50 Tons de Cinza; 50 Tons Mais Escuros e 50 Tons de Liberdade da escritora britânica E. L. James. 
Admito que normalmente desconfio desses “fenômenos” que de tempos em tempos surgem em nossas vidas. E com essa trilogia de livros não foi diferente.  Apenas ouvia falarem a respeito, mas nunca tive a menor curiosidade para saber detalhes da história ou até mesmo em ler esses livros. Porém, um dia fui surpreendido com a pergunta se eu já tinha lido alguns desses livros, respondi que não e senti um tom de ironia na risada logo após minha e terminou dizendo que não deveria me interessar mesmo porque era um livro erótico e eu como religioso que sou não “poderia” ler aquilo. 

Rapidamente lembrei que nos anos 90 eu vi a minissérie “Engraçadinha” baseada na obra de Nelson Rodrigues e depois de um tempo consegui um exemplar para ler. Também nos anos 90 o programa “Fantástico” exibiu a série “A Vida Como Ela É...” também baseada na obra de Nelson Rodrigues e alguns anos depois li o livro com os contos. Em 2005 li os livros: “A Casa dos Budas Ditosos” e “O Sorriso do Lagarto” ambos de João Ubaldo Ribeiro. E todas essas obras são de conteúdo pouco puritano, isso para usar um eufemismo.

Fiquei instigado e consegui os três livros da trilogia para ler. E depois de ler em menos de quinze dias cheguei à conclusão que seria melhor eu não ter lido mesmo nenhuma das cerca de quinhentas páginas que cada livro tem. Não porque seja de conteúdo “erótico”. Mas porque os três livros são ruins mesmo. No entanto pergunto: se o livro é ruim como é que consegui ler os três em menos de quinze dias? A resposta é simples e vou responder nos próximos parágrafos. 

Li rápido não porque foi escrito de modo envolvente, interessante, leitura que prende a atenção etc. Nada disso. Mas, porque foi escrito de modo “infantil”. Um livro para crianças de sete anos um adulto comumente lê rápido. Por estes serem livros de cerca de quinhentas páginas demora um pouco mais de tempo mesmo, sendo assim uma pessoa com o mínimo de experiência em leitura consegue ler essas mais de mil páginas desses livros com rapidez mesmo. 

No primeiro, são mais de oitenta páginas só para dizer que a Anastassia Steele (mocinha do livro) é “sem graça”, “bobinha” e acabou de conhecer alguém incrível e fica nervosa quando o vê e tudo mais; lembrei rapidamente da saga “Crepúsculo”, pensei: o que está havendo? 

Ora, algo realmente bem escrito resolve isso da mocinha do livro em vinte ou no máximo trinta páginas. Foi quando tive o primeiro choque de realidade e percebi que o livro era mal escrito mesmo e se comecei a ler eu ia terminar. Vai que a história melhora (mas não melhorou). E no fim do terceiro livro da trilogia me fez pensar uma coisa: se pegarmos toda a história entre Edward e Bela da saga Crepúsculo tirar o que tem de sobrenatural e no lugar colocar um pouco de erotismo, sadismo e sacanagem. Adivinhem: temos a trilogia dos Cinquenta Tons...

A mocinha: é sem graça, tem um carro horrível. Ele é um homem bonito, sedutor, tem tudo. Os dois se conhecem e incrivelmente se gostam. Começam a namorar e tudo, porém em um momento algumas pessoas decidem ir contra o romance até que no último volume, eles se casam. Logo, nada de novo ou de interessante. Muitos diálogos totalmente desnecessários e inúteis (isso porque não quero ofender). Mais um motivo para o livro ser tão grande.

Em suma é um livro deleitura primária, pedestre, rasa. E quanto à parte mais erótica do livro (talvez seja isso que chame a atenção da maioria), recomendo ler antes algumas obras de Nelson Rodrigues como: Engraçadinha ou de João Ubaldo Ribeiro, por exemplo: “A Casa dos Budas Ditosos” ou os “Contos Proibidos” do Marques de Sade até mesmo algo menos conhecido como “A História de O” de Anne Desclos. Depois de lerem isso quando se depararem com “Cinquenta Tons”, provavelmente considerarão o livro pífio.

Os fãs da trilogia dirão: - Quem é você para achar isso? 

Realmente, a escritora hoje é rica e ganha rios de dinheiro com os direitos autorais dessa história. Contudo isso nem me incomoda. O que me incomoda de verdade é pensar: O que será que leva tanta gente a querer ler esse livro? Ou o que é pior, o que leva as pessoas a gostarem? Talvez tenha aí uma “pitada” de imposição da mídia. Entretanto, porque a “mídia” estaria interessada que as grandes massas lessem esse tipo de bobagem? (não ouso chamar isso de literatura). Bom, não sei, mas é uma trilogia onde cada livro tem 500 páginas e isso possa impedir as pessoas a lerem algum tipo de livro realmente substancial, relevante e profundo na vida e que faça pensar. 

O que mais me assusta é que cada livro da trilogia tenha por volta de quinhentas páginas, ou seja, são cerca de 1500 páginas (tadinhas das árvores que foram cortadas e viraram papel para acabarem imprimindo esse tipo de coisa), no mais penso também que isso pode dar a falsa impressão da pessoa que leu tudo ser alguém: culto, intelectualizado. Doce ilusão, mas não se iluda. Fica a dica!

Júnior Santiago

Camocinense, Graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula