INTELIGÊNCIA? ONDE? - Revista Camocim

sábado, 6 de junho de 2015

INTELIGÊNCIA? ONDE?

Desde a infância ouço algumas pessoas que me conhecem me chamarem de inteligente, um grande elogio sem dúvida, ainda mais sabendo que a beleza nunca foi o meu forte. Realmente eu precisava me sobressair de alguma forma, então aproveitei aquilo que em mim é bem incisivo como característica: a perspicácia misturada com a capacidade de reter informações; foi assim, então que recebi a alcunha de ‘inteligente’; é até lisonjeiro, até gosto de crer que haja em mim esse tipo de coisa, mas me atrevo a dizer que ao contrário daquilo que se costuma pensar a inteligência não é uma experiência individual. 

Eu diria que é antes de tudo: um fenômeno coletivo (grupo de pessoas que compartilham um mesmo ideal), nacional (fenômeno comum de uma nação, país específico) e intermitente (aquilo que não é algo contínuo, alternado).

A história está aí para eu poder ter argumentos plausíveis e para eu sustentar esse pensamento. Não sou nenhum historiador ou arqueólogo muito menos coisa parecida; considero-me, antes de tudo, uma pessoa que resolveu reunir informações e transformá-las em um texto com início, meio e fim. Para dizer que um grupo de pessoas em um local específico responde aos anseios da época onde vivem.
Como bom estudante de filosofia que sou (ou pelo menos anseio ser) inicio minha viagem de argumentos pela área na qual hoje ostento um diploma: Atenas, Grécia Antiga, ano 416 antes de Cristo (aproximadamente): a estreia de Electra de Eurípedes e no anfiteatro da acrópole grega estão os seus dois rivais: Sófocles e Aristófanes e também dois de seus amigos: Sócrates e Platão com o seu discípulo Aristóteles e alguns anos antes tínhamos a estreia de Medéia (“ah, mulheres de Corinto¹”) e essa mesma plateia. Ali estava a inteligência na sua mais sublime manifestação. 

Séculos depois da vinda de Jesus em nosso meio, temos os fabulosos Padres da Igreja (Ambrósio, João Crisóstomo, Inácio de Antioquia. Isso para ficar apenas com os ocidentais) estes aí não deixaram ser extintos os mais lindos ensinamentos do nazareno e da Torá judaica (Tanak) sem esquecer-se de mencionar que deram as mais lindas e profundas interpretações bíblicas que o Ocidente tem da Bíblia, sem contar que Agostinho está lá, sorrindo para os livros de história, filosofia e teologia, no mínimo. A fé de mãos dadas com o conhecimento.

Os anos seguem, alguns impérios caem outros florescem. Agora estamos na linda cidade italiana, Florença o ano é 1504 o local é o Palazzo Vecchio e na pintura de suas paredes as marcas de dois singelos pintores: de um lado Leonardo da Vinci e do outro lado Michelangelo há também um aprendiz, o escultor e pintor Rafael (Sanzio) e para administrar toda essa situação as linhas do “príncipe” Nicolau Maquiavel, sem esquecer é claro que naquele mesmo século VI em Nápoles nascia Giordano Bruno que seria em poucos anos influente escritor e filósofo e mesmo sendo frade dominicano com pouco mais de 50 anos, estaria queimando na fogueira em homenagem à inquisição. Forza Itália!

Em nosso continente americano é imprescindível falar sobre os Estados Unidos, mais precisamente na cidade da Filadélfia, anos são 1776 e 1777. A Declaração da Independência e Constituição americana se têm: John Adams, Benjamim Franklin, Thomas Jefferson, George Washington, Alexander Hamilton e James Madison, melhor parar a lista por aqui, afinal temos que concordar que: nenhum outro país do mundo teve tanta sorte durante aquele período histórico.

Quanto ao Brasil, é interessante refletir sobre a década de 20 do século XX, mais precisamente em 1922 na cidade de São Paulo. É quando se realiza a semana de Arte Moderna; estou querendo lembrar: do maestro e compositor Heitor Villa-Lobos, os pintores Di Cavalcanti, Anita Malfati, dos escritores Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Monteiro Lobato e sobrevoando ao redor de tudo isso Alberto Santos Dumont, não esquecendo que Tarsila do Amaral pouco tempo depois se une a esse grupo de amigos; naquela mesma década nasce o poeta João Cabral de Melo Neto (vida nenhum pouco ‘severina’²) e no intervalo de poucos anos Rachel de Queiroz lança-se como escritora. Viva as terras tupiniquins. 

Estes são penas quatro exemplos pra reforçar que penso sobre a inteligência ser algo coletivo, nacional (algo comum a uma nação, país) e intermitente. São exemplos de grupos de pessoas próximas e ligadas em: ideais humanos, próximos geograficamente e em momentos específicos da linha do tempo.

Bom, e voltando a escrever sobre mim. Nasci na cidade de Camocim no estado brasileiro do Ceará o ano era o de 1986, entretanto naquele ano todos éramos digamos que ‘bobos’ tanto em Atenas como em Roma ou em São Paulo ou no Ceará. Contudo se eu tivesse nascido digamos, na Inglaterra alguns anos antes de 19866, eu teria defendido a invasão nas Ilhas das Malvinas contra a Argentina e acreditado piamente em Margareth Tatcher. Talvez se fosse mais velho ou se meus pais fossem italianos teríamos defendido as brigadas vermelhas e para aquela época seria algo brilhante, porém hoje em dia agora estaríamos todos com Berlusconi, ou seja, não é algo muito inteligente. E se fosse para o Texas o voto era em George Bush (tanto o George pai no inicio dos anos 90 quanto o Bush filho no dos anos 2000³). É no final das contas, talvez eu não seja considerado tão estúpido assim.

Quanto aos dias de hoje, a inteligência sumiu. E não querendo ser um pessimista, às vezes esta se ausenta por muito tempo. Talvez essa seja só mais uma teoria sem fundamento de alguém que não estudou o suficiente e queira exibir o pouco daquilo que conseguiu fixar na sua massa encefálica, enfim, são apenas conjecturas transformadas em frases e organizadas em um texto. 

Júnior Santiago

 Camocinense, Graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula