O PROBLEMA DA SAÚDE NÃO É A FALTA DE DINHEIRO, MAS O EXCESSO DE DOENÇA - Revista Camocim

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O PROBLEMA DA SAÚDE NÃO É A FALTA DE DINHEIRO, MAS O EXCESSO DE DOENÇA


Em artigo enviado ao Blog do Eliomar AQUI, o estrategista de Comunicação, Fabner Utida, sugere uma mudança de comportamento na sociedade e na política com relação à Saúde. Confira:

A cada dia no Brasil vemos piores notícias sobre o caos no sistema de saúde. É claro que se formos olhar para as estatísticas específicas dos gastos, vamos perceber que se gasta pouco no Brasil em relação a outros países.

De acordo com dados do IBGE, o Brasil gasta cerca de 8,5% do PIB com saúde, sendo 42% de gastos públicos e 58% de gastos privados (famílias, empresas e organizações sem fins lucrativos).

Em 2012, de acordo com o relatório do Instituto Canadense para Informação de Saúde (Canadian Institute for Health Information), entre os países que mais investem em saúde pública, estão:

- França: 11,6% do PIB, sendo 77% investimentos públicos e 23% privados.

- Dinamarca: 11% do PIB, sendo 86% investimentos públicos e 14% privados.

- Canadá: 10,9% do PIB sendo, 70% investimentos públicos e 30% privados.

- Reino Unido: 9,3% do PIB, sendo 84% investimentos públicos e 16% privados.

É claro (até mesmo pela prerrogativa da Constituição Brasileira) que o nosso sistema público deveria estar investindo muito mais em saúde. Mas, como o nosso país tem a realidade de ser “obrigado” a gastar 42% do orçamento Federal com amortização e juros da dívida pública, realmente não existe um caminho fácil para a solução financeira. Hoje, o Brasil não dedica nem 10% do orçamento anual para a saúde.

Para se ter uma ideia o Reino Unido, que é o país que investe 5 libras de recursos públicos para cada libra de recursos privados gastos pela população, no seu orçamento federal, 19% é dedicado para a saúde.

Mas acredito que a pergunta principal não deveria ser como tratar os doentes, mas como evitar que as pessoas ficassem doentes?

Os Estado Unidos investem cerca de 17% do PIB em saúde, sendo 48% de investimentos públicos e 52% privados. Por lá são gastos cerca de 8.750,00 dólares por pessoa ao ano, ou seja, 9 vezes mais do que no Brasil.

Mesmo com toda esta dinheirama, saúde é considerada hoje o maior problema social dos Estados Unidos. Depois das questões econômicas, foi a segunda maior plataforma das últimas cinco eleições presidenciais.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, e o que milhares de profissionais de saúde igualmente já sabem, a crise da saúde em todo o mundo é, na verdade, uma crise de estilo de vida do mundo moderno. Destacam-se aqui problemas como obesidade, alcoolismo, tabagismo, acidentes automobilísticos, doenças respiratórias, stress, dentre outros.

Mais de 50% dos casos que lotam os hospitais e unidades de saúde no Brasil seriam plenamente evitáveis e de direta responsabilidade de cada um de nós brasileiros. Estamos falando da imprudência no trânsito, da falta de prevenção contra a dengue, de quando mandamos nossos filhos para a escola com virose e acabamos contaminando uma sala inteira, e por aí vai.

Existe um formato que já vem sendo utilizado em alguns países e também por diversos planos de saúde, como forma de envolver os pacientes na responsabilidade por sua própria saúde: o sistema de co-participação. Neste sistema, a cada atendimento, o paciente se responsabiliza por uma parte do pagamento.

É válido lembrar também a possibilidade de aumentar a tributação de produtos que causam danos à saúde, como já acontece com o cigarro. Quem sabe esta mesma prerrogativa não poderia ser levada para a indústria de motocicletas, de refrigerantes, de bebidas alcoólicas, de fastfood, etc.

Nesta oportunidade aproveitamos para outra reflexão: qual seria mesmo a prioridade para os médicos que escolhem esta profissão? São eles motivados pelo status social ou pela possibilidade dos ganhos financeiros que a medicina representa? Será que é isto que também move a indústria da saúde (ou não seria melhor chamar de indústria da doença)?

O que os grandes especialistas na área da saúde e de comportamento social já perceberam é que todo o dinheiro do mundo não será suficiente quando uma sociedade inteira insiste em ficar doente.

A meu ver, os gestores e líderes envolvidos com a questão da saúde precisariam focar fundamentalmente em três pontos: 1) mobilizar a sociedade para atitudes mais responsáveis e saudáveis; 2) otimizar e controlar mais os recursos existentes, sejam estes humanos, estruturais e financeiros; 3) buscar fontes alternativas e inteligentes para novos recursos, principalmente com parcerias e  acesso a fontes de dinheiro mais barato e, no caso de governos, tributação diferenciada de produtos e serviços que ampliam os riscos à saúde.

Mas, olhando para a realidade dos países que mais gastam com saúde e também para a nossa realidade brasileira, é bem fácil perceber que o problema mesmo não é falta de dinheiro, e sim excesso de doença. Neste aspecto mais importante, de fato, é a mobilização da sociedade para atitudes mais responsáveis e saudáveis.

( Blog do Eliomar)