PROFESSOR TAMBÉM É GENTE - Revista Camocim

terça-feira, 6 de maio de 2014

PROFESSOR TAMBÉM É GENTE

"Ser professor hoje é ter a certeza de que vamos ser humilhados pelos alunos que não querem nos respeitar", diz o professor


O Revista Camocim reproduz a reflexão do professor efetivo da rede pública municipal de Camocim, Sebastião Marques Dourado  (o desenho abaixo é de autoria do professor)

"Todos nós que trabalhamos como educadores sabemos o quanto sofremos até conseguirmos, com grandes sacrifícios, uma formação universitária. Sabemos o quanto nos faz falta o que tiramos do nosso humilhante salário para pagarmos a faculdade, e quando concluímos, quando damos entrada na mudança de nível, o percentual de aumento não é mais que insignificante, chegando a ser revoltante.

Atualmente, o salário de um professor com formação universitária, com uma carga horária de 100 horas, é de R$ 1.085,00, isto, depois do aumento de 9% dado pelo município, que argumentou ter concedido um aumento acima do piso nacional, ora, o aumento dado pelo MEC foi de 8,32% e o governo municipal arredondou para 9, o que na verdade, significa dizer que o aumento foi de apena 0,68%. E é com esta esmola que os governantes teimam em chamar de salário, que os professores sobrevivem os 30 dias do mês.

Como se não bastasse a humilhação do baixo salário, que não é o suficiente para que o professor compre uma merenda todos os dias, há também o fato de certos diretores não permitirem que os professores comam a merenda escolar, sob a alegação que a mesma é destinada exclusivamente aos alunos. Até aí tudo bem, isso é uma verdade, mas, o que a maioria não sabe é que muitos diretores mandavam enterrar a merenda que sobrava, mas não deixavam os professores comer nem as sobras.

Já os professores que trabalham na zona rural, esses é que sofrem, pois devem desembolsar todo mês, uma quantia para pagar um transporte que os conduza até seu local de trabalho, sob outra alegação de que o transporte escolar é de exclusividade do aluno, e que o município dá uma gratificação para o transporte.

Nós, professores, não queremos gratificação nenhuma, queremos é respeito, um salário que nos permita comer bem o ano inteiro, que nos possibilite gozarmos de momentos de lazer com nossas famílias, que nos forneçam condições para nos especializarmos sem que isso signifique sacrificar qualquer outra necessidade que temos, que nos trate como gente e que nos valorizem como pessoas e profissionais que somos.

Ser professor hoje é ter a certeza de que vamos ser humilhados pelos alunos que não querem nos respeitar, por pais de alunos que nunca vão compreender o valor que temos na formação de seus filhos, por outros colegas professores que “estão” diretores ou coordenadores, mas que na sua arrogância, esquecem que também são professores e que sofrem como nós sofremos, mas que, para agradar o político que lhes deu o cargo, insistem em achar que são melhores, mais capazes que os meros regentes de sala de aula e pelos gestores, que nunca pagam os nossos direitos trabalhistas.

Por fim, nossos governantes, cegos pela ânsia de encherem seus bolsos e de satisfazerem seus caprichos pessoais, não percebem que a figura dos profissionais da educação merece ser tratada com respeito, com dignidade, pois é este profissional que está todos os dias da semana em contato direto com aqueles que serão o futuro de nosso país. Infelizmente, este futuro está sendo deixado de lado para que interesses pessoais de políticos medíocres tenha prioridade sobre a educação".