
Na hora do acidente, por volta
de 12h20, Bruno estava trabalhando nas obras de sua casa, a quatro quarteirões
da praia. Quando viu o rasante e o voo torto que o helicóptero deu, antes de
cair no mar da Praia do Presídio, o salva-vidas, mesmo desempregado há mais de
cinco meses, chamou dois amigos para tentar ajudar os tripulantes da aeronave.
"Quando vi o jeito que o
avião passou, meio que cambaleante, fui logo para a praia para ver o que dava
para fazer e chamei dois amigos meus, que também são surfistas, para me
ajudar", explicou.
Ao chegar na praia, Bruno
ficou surpreso com a quantidade de pessoas que observavam o acidente e filmavam
a cena com os seus celulares, mas sem iniciativa para ajudar os tripulantes.
"É impressionante como as pessoas se aproximam para registrar a desgraça,
mas ninguém, antes de nós, tinha entrado no mar para ajudar", destaca.
O salva-vidas, que tem
conhecimento técnico, procurou uma boia e um colchão inflável para conseguir
apoiar os dois tripulantes que permaneceram abraçados com a cabine do
helicóptero. "Por conta do pânico dos dois, teríamos que ter algum apoio
para levá-los para a praia. Quando chegamos próximo ao helicóptero, o piloto,
que era mais idoso e teve um ferimento no braço, estava fraco e se apoiava no
vice-prefeito Marquinhos", relata Bruno.
Os dois tripulantes ficaram
muito gratos ao salva-vidas e aos outros surfistas que participaram do
salvamento e ofereceram uma quantia em dinheiro como recompensa pela ajuda, que
foi rejeitada pelo grupo.
"Não se paga o valor de
uma vida em dinheiro. O muito obrigado é tudo que posso aceitar", disse o
salva-vidas, que procura trabalho em sua área desde janeiro. "Vou
continuar confiando e, enquanto isso, vou trabalhar na obra da minha casa e
ajudar meus pais e minha esposa", revela Bruno.
A mãe do jovem, a autônoma
Maria da Conceição Barbosa, concordou com a atitude do filho, de não aceitar a
recompensa. "Aqui em casa, criei meus filhos assim, para ajudar os outros,
sem pensar no que vão receber em troca. Ele foi um herói e tem o nosso apoio
até conseguir um emprego", garante.
Para o surfista Artur
Monteiro, 19, que também ajudou no resgate, foi muita sorte os dois tripulantes
terem sobrevivido à queda do helicóptero. "Talvez, se a gente demorasse
mais, não tivesse dado tempo de salvar. Porque registrar a desgraça dos outros
em celular é fácil, mas ajudar, é raro", acredita.
O sargento do Corpo de
Bombeiros Daniel dos Santos, um dos mergulhadores que participaria do resgate
da cabine da aeronave, na tarde de domingo, compartilha da mesma opinião do
surfista. "Pela experiência que nós temos em salvamento, foi muita sorte
terem se salvado todos os quatro tripulantes. A experiência do piloto também
ajudou, ao decidir encaminhar o helicóptero para o mar, o que suavizou a
queda", afirma.
Operação
Uma equipe composta por quatro
mergulhadores do Corpo de Bombeiros esteve na Praia do Presídio, ontem, para
retirar os escombros da cabine do helicóptero, que estão a cerca de nove metros
de profundidade. Durante a operação, um cabo de aço se rompeu, o que fez com
que a ação fosse adiada.
O sargento Daniel dos Santos
acrescentou ainda que, por conta do movimento da maré, as buscas só serão
reiniciadas na manhã de hoje. O início da operação está previsto para acontecer
a partir das 11h.
Kelly Garcia
Repórter
Diário do Nordeste