DONA DE CASA FOI LINCHADA PELA POPULAÇÃO DEPOIS DE BOATO NO FACEBOOK
A morte da dona de casa
Fabiane Maria de Jesus, linchada esta semana no município paulista de Guarujá
após ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças, aponta para a
necessidade de o Congresso Nacional aprovar uma lei específica para punir os
casos de má utilização das redes sociais e da internet que resultem em crimes
contra a integridade física. O alerta é do advogado da família de Fabiane,
Airton Sinto.
“Fabiane morreu em virtude,
principalmente, da leviandade do administrador da página [Guarujá Alerta] que
disseminou falsos boatos e alarmou toda a comunidade de Morrinhos [bairro onde
Fabiane morava com o marido e as duas filhas]”, acusou o advogado à Agência
Brasil.
Sinto argumenta que a tragédia
de Fabiane é irreversível, mas deve gerar o debate sobre punições mais severas
que as previstas no Código Penal para quem, por meio das redes sociais ou
internet, contribuir para a concretização de atos criminosos como o que vitimou
a dona de casa.
“É necessário aprovar
legislação específica para casos de utilização da rede social de forma
irresponsável que causem dano efetivo à integridade física ou à vida de
alguém”, comentou o advogado, revelando já ter sido procurado por um
parlamentar que pediu sua colaboração para elaborar um projeto de lei com a
proposta.
Sinto disse que aguarda o
depoimento do responsável pela página Guarujá Alerta à Polícia Civil, previsto
para acontecer ainda hoje (6), mas defendeu a detenção do investigado, alegando
que todos os textos e fotos que podem ter incentivado o crime foram excluídos
da página após Fabiane ter sido linchada.
“Estudamos a ideia de
solicitar a prisão temporária do administrador, com base na destruição de
provas e intenção de prejudicar a investigação policial”, afirmou Sinto. “A
nosso ver, o administrador da página deve responde pelo evento final, ou seja,
pelo homicídio de Fabiane, triplamente qualificado, dentro dos limites de sua
culpabilidade”.
Ainda de acordo com o advogado,
as imagens e notícias alertando pais e mães a não deixarem seus filhos sozinhos
nas ruas de Morrinhos porque uma sequestradora de crianças estaria agindo no
bairro eram falsas. “Não há e nunca houve ocorrência ou comunicação à polícia
local sobre o fato de existir sequestradoras de crianças em Guarujá ou no
bairro do Morrinhos”, garantiu Sinto, após consultar as autoridades policiais.
Confundida com a suposta
sequestradora, Fabiane foi agredida no último sábado (3) por dezenas de pessoas
e deixada inconsciente, até a chegada de policiais militares. A dona de casa
morreu na manhã dessa segunda-feira (5), depois de dois dias internada em UTI.
As investigações para apontar
os autores do boato e os responsáveis pelo linchamento estão sob a
responsabilidade do 1º Distrito Policial de Guarujá. Parentes de Fabiane já
foram ouvidos. Imagens registradas por aparelhos celulares podem ajudar a
identificar os agressores. De acordo com Sinto, algumas das pessoas que
aparecem no vídeo já foram identificadas.
Na própria rede social, o
administrador da página Guarujá Alerta divulgou que está colaborando com as
investigações e que não se manifestaria sobre o assunto para não atrapalhar o
trabalho da polícia. Ele se defendeu no site alegando que sempre alertou os leitores
da página de que a situação poderia se tratar apenas de boato.
Via: Agência Brasil