TURISTAS ACIDENTADOS SÃO TRANSPORTADOS DE HELICÓPTERO PARA CAMOCIM, MAS NÃO HAVIA MÉDICO NO HOSPITAL DEPUTADO MURILO AGUIAR
Além disso, nas ambulâncias que foram enviadas ao aeroporto para socorrerem as vitimas, haviam apenas os motoristas.
O fato simplesmente mostra o quanto a cidade está seriamente despreparada para atender não somente os visitantes, mas toda a população que necessita de emergência médica. Quem mora em Camocim sabe exatamente que o drama vivido pelos turistas foi apenas uma repetição do que já vem acontecendo há anos no Hospital Deputado Murilo Aguiar.
A familia acidentada, além de sorte e das bençãos de Deus, aparenta ter contatado também com bons recursos financeiros, algo que nos leva a outra reflexão: e quem não dispõe de recursos para arcar com atendimento fora do sistema público?
A familia acidentada, além de sorte e das bençãos de Deus, aparenta ter contatado também com bons recursos financeiros, algo que nos leva a outra reflexão: e quem não dispõe de recursos para arcar com atendimento fora do sistema público?
Também mostraram -se ineficientes, além de Camocim, as cidades de Jijoca e, pasmem, Sobral.
Segue a matéria completa do Jornal O POVO
"A viagem de férias da família Rodrigues ao
Ceará terminou de uma forma inesperada. Turistas, naturais de São Paulo, pai,
mãe e as duas filhas participavam de um passeio de buggy quando se envolveram
em um acidente, na descida de uma duna, em Jericoacoara, a 314 km da Capital,
no último sábado. O episódio deixou as vítimas com fraturas e escoriações pelo
corpo.
Foi apenas o início de uma
saga em busca de atendimento médico. Após uma peregrinação por três municípios,
com o uso de um helicóptero locado, a família constatou a falta de estrutura
adequada para resgate de vítimas de acidentes em Jericoacoara.
O POVO conversou com a
família, que relatou como foi o acidente e a busca por atendimento. Na volta do
passeio até a localidade de Tatajuba, o motorista do buggy tentou fazer uma
manobra num paredão de areia. Na curva, o carro bateu em um barranco, saltou e
“embicou”, arremessando os passageiros para frente. Eles não caíram do veículo,
que também não tombou. Porém, todos ficaram feridos.
Segundo as vítimas, o bugueiro
não soube o que fazer para prestar socorro. “Percebemos que ele era totalmente
despreparado. Mesmo com dor, meu pai foi quem lembrou de ligar para uma empresa
que faz voos de helicóptero na cidade e pediu ajuda”, contou Tássia Rodrigues,
uma das vítimas. O piloto, que atendeu ao chamado, ainda passou pelo hospital
de Jijoca, onde solicitou a presença de um médico e uma maca para transportar
as vítimas. Contudo, o pedido foi negado.
O helicóptero seguiu, então,
para o hospital de Jijoca, mas, por conta da falta de estrutura, o comandante
da aeronave se deslocou até Camocim. Na cidade, uma ambulância foi chamada para
remover as vítimas da aeronave. Porém, no veículo, que era pequeno, estava
somente o motorista. Cinco minutos depois, uma segunda ambulância chegou ao
local. Novamente, havia apenas o motorista no carro. Ele ainda teria informado
que não havia médico no hospital.
Diante da situação, a família
decidiu pedir ao piloto para seguir até Sobral, onde foram recebidos no
hospital regional. A unidade, contudo, não dispõe de atendimento especializado
em traumas, razão pela qual a vítima Creuza Nascimento teve de ser levada para
a Santa Casa. No hospital filantrópico, ela foi informada que também não seria
operada de imediato porque não havia “fratura exposta”. O procedimento teria
que ser feito na segunda-feira seguinte.
A família apelou novamente
para o piloto do helicóptero, que os transportou até Fortaleza. Todos foram
atendidos no hospital Uniclinic e se hospedaram em um hotel, onde aguardam
autorização médica para voltarem a São Paulo.
“Jericoacoara é um lugar
lindo. Não fosse o acidente, nossa viagem seria perfeita. Mas fomos para um
lugar onde falta socorro. Ninguém tem noção do risco que se corre aqui”,
reclamou Rúbia Rodrigues. “Não queremos que alguém seja punido. É só uma alerta
para as pessoas que visitam esse lugar. E principalmente às autoridades, para
que isso não se repita. Foi terrível”, completou Adauto Rodrigues.
Saiba mais
As vítimas foram o motorista
autônomo Adauto Rodrigues, de 59 anos, que fraturou uma costela; a dona de casa
Creuza Nascimento Rodrigues, 62, que teve fraturas nos dois braços e um corte
no rosto; a relações públicas Tássia Rodrigues, 29, que também sofreu um corte
na face; e a analista financeira Rúbia Rodrigues, 31, que estava no banco da
frente e teve ferimentos leves. O motorista do buggy também teve ferimentos
leves.
Por dois dias, O POVO tentou
ouvir a Prefeitura de Jijoca. As chamadas, contudo, não foram atendidas. A
reportagem também ligou para a Prefeitura de Camocim, mas as ligações também
não foram atendidas".