DECISÕES JUDICIAIS NÃO LIMITAM ESPERA POR LEITOS EM UTIS - Revista Camocim

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

DECISÕES JUDICIAIS NÃO LIMITAM ESPERA POR LEITOS EM UTIS

O direito à saúde é um preceito fundamental, conforme a Constituição Federal. No entanto, no Ceará, em especial, Fortaleza, o déficit de pelo menos 100 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para adultos transformou a doutrina em briga jurídica. As 240 unidades de UTI adulto oferecidas pela rede municipal, incluindo as contratações com hospitais privados, estão sempre lotadas e, sem vaga, pacientes e seus familiares apelam à Justiça para garantir um leito.

Nem assim, afirmam os próprios juízes, gestores e Ministério Público Estadual (MPE), essa vaga é conseguida com rapidez. A falta de leitos de UTI resulta em estresse e muita angústia para pacientes e familiares. Atualmente, a fila no Complexo Integrado de Regulação de Leitos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é de 30 pacientes, e a espera chega a semanas.

O Fórum Clóvis Beviláqua não tem como informar o número exato de processos específicos contra o Estado ou Município com relação aos leitos de UTI. No entanto, garante que eles se multiplicam a cada ano.
Diário do Nordeste

Casos como o de um paciente (nome em sigilo) de 69 anos internado no Frotinha da Parangaba para cirurgia no abdômen em decorrência de hérnia. Devido à infecção, ele foi operado mais duas vezes e como não tinha vaga na UTI, foi mantido na enfermaria, mesmo diagnosticado com pneumonia. A família entrou na Justiça e a juíza Lira Ramos, da 25ª Vara Cível, deferiu pedido. Assim mesmo, teve que aguardar vagar leito.

Outro caso citado pelo Fórum é de um paciente que deu entrada em Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no dia 30 de dezembro passado. Com pneumonia grave, a família entrou com processo, e o magistrado da 15ª Vara, Gerardo Magelo Facundo, determinou que o Estado fornecesse leito. A família esperou mesmo com a deliberação.

Sobre isso, a titular da Promotoria em Defesa da Saúde, do Ministério Público do Estado (MPE), Isabel Porto, reconhece que a situação é grave e avalia que a pressa de quem tem familiar precisando de leito de UTI é legítima. Contudo, antes de cumprir a sentença do juiz é preciso levar em consideração o direito dos outros pacientes mantidos nas unidades. "Existe a ética médica e como obedecer a Justiça se outros também se encontram em estado grave", questiona.

De acordo com a promotora, o problema não é só de Fortaleza, mas do Brasil. Ela coordena comissão de saúde do Grupo Nacional de Direitos Humanos, do Conselho Nacional de Procuradores de Justiça. "A carência dessas unidades é geral e gera um sofrimento em cadeia para o familiar, o juiz, o promotor, o defensor e o médico", aponta.

O gerente do Complexo Integrado de Regulação da SMS, Mozart Rolim, admite o problema e afirma que a falta de vaga da UTI não justifica falta de atendimento ou atraso de um tratamento. "É preciso entender que o paciente é atendido com celeridade, seu quadro é estabilizado e, se necessitar de UTI, vamos buscar", salienta.

Prioridade

Segundo ele, apesar dos casos indicados para UTI necessitarem de atenção especial, um sistema de prioridades comanda a forma como a regulação de leitos é feita. O paciente é avaliado seguindo critérios como a reversibilidade da doença aguda, o grau de disfunções e o uso de suporte, equipamento utilizados para manter a fisiologia do doente. O perfil do leito também é levado em conta. Ele adianta que, a partir deste mês, o município irá contar com novo sistema de regulação de leitos, chamado de Unissusweb, o que dará, aponta, maior agilidade.


Através da assessoria de imprensa, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) esclarece que alguns fatores vêm "pressionando" o aumento da demanda por leitos, como o fato de a população estar vivendo mais, além do crescente número de acidentes de trânsito. Em contrapartida, a estratégia que vem sendo utilizada pela Sesa é interiorizar o atendimento, com os leitos do Hospital Regional Norte (70), Hospital Regional do Cariri (30) e Hospital Regional de Quixeramobim (30), ainda em construção. Outra estratégia é a regulação de leitos, que passarão a ser monitorados on-line.