Cidade do Vaticano. O papa Francisco criticou ontem o aborto, que qualificou como "prova da cultura do descartável que desperdiça pessoas da mesma forma que desperdiça comida". Para ele, a interrupção voluntária da gravidez é "horrível".
O pontífice comentava sobre aspectos do que chama de "cultura do descartável". "Os próprios seres humanos, que vêm sendo descartados" Foto: Reuters
Esta foi a condenação mais incisiva ao aborto feita por Francisco desde sua eleição, em março de 2013. Tido como mais liberal em alguns aspectos, como a participação da mulher e o casamento homossexual, a frase foi um aceno a setores mais conservadores da Igreja Católica.
Em discurso anual a diplomatas, o pontífice comentava sobre a fome como um dos aspectos do que chama de "cultura do descartável". "Lamentavelmente, não são objetos de descarte apenas os alimentos ou supérfluos, mas também os próprios seres humanos, que vem sendo descartados como coisas não necessárias".
Para ele, essa cultura também afeta as crianças que não nasceram ainda, em referência à interrupção da gravidez. "Por exemplo, é horrível quando você pensa que há crianças, vítimas do aborto, que nunca verão a luz do dia". Francisco nunca deu sinais de que reveria a condenação da Igreja ao aborto, mas tampouco vinha fazendo as duras e frequentes recriminações contra essa prática que caracterizavam seus antecessores João Paulo II e Bento XVI. Há dois meses, ele se mostrou contrário à interrupção da gravidez em sua primeira exortação apostólica, mas defendeu que a Igreja desse apoio às mulheres atingidas.
Diário do Nordeste
Tráfico humano
O papa Francisco condenou também o "crime do tráfico de seres humanos" perante o corpo diplomático, ao qual pediu um compromisso com a paz e o direito humanitário.
Por ocasião de sua primeira saudação a centenas de embaixadores, outros diplomatas e suas esposas reunidos na Sala Clementina, Francisco clamou pela resolução dos conflitos em todo o mundo, em particular na Síria, República Centro-Africana, Sudão do Sul, Iraque, Egito, Líbano, Israel/Palestina, Nigéria, Mali, Grandes Lagos, Chifre da África e Coreias.
Novos cardeais
O papa Francisco advertiu aos primeiros 19 novos cardeais designados no domingo que receber o título cardinalício "não representa uma promoção, nem uma condecoração", em uma breve carta divulgada ontem pelo Vaticano. Na carta enviada aos escolhidos, o pontífice argentino lembrou que o trabalho de todos os purpurados é "servir" à Igreja e aos católicos. "Desejo que possam me ajudar com eficaz fraternidade em meu serviço à Igreja universal", escreveu Francisco. No domingo, o papa argentino anunciou a lista dos 19 novos cardeais, sendo 16 eleitores. Entre os eleitos está o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta.