"O que leva alguém a esquartejar um ser humano? Que ódio tão grande é esse, capaz de nos fazer perder totalmente a sã consciência e a noção exata de nossas atitudes?"
Sem tantos poetismos e devaneios, hoje gostaria que pensássemos um pouco sobre uma característica muito peculiar de todo e qualquer ser humano que, gradativamente, vai sendo esquecida, passando desapercebida, até mesmo involuntariamente, nesse atual estágio da evolução humana. Trata-se da capacidade de indignar-se, surpreender-se, com as atrocidades que estamos presenciando neste mundo caótico em que vivemos. Muitos parecem que vivem num permanente estado de torpor, indolência, anestesiados pela indiferença de uma vida programada, mecanizada. O que aconteceu com a “criança filosófica” que existe dentro de cada um de nós, que a todo momento se pergunta, se questiona, numa curiosidade constante, ávida para galgar novas experiências e sempre aberta para as surpresas da vida?! De tanto contemplarmos a tragédia e as agruras do cotidiano, nos tornamos insensíveis diante do trágico e da beleza.
A vida há certo tempo está sendo banalizada, virando mercadoria de troca, escambo da contemporaneidade e, infelizmente, temos assistido passivamente o bonde da história passar diante de nós, comodamente sentados em nossas poltronas, batendo palmas muitas vezes e dando gargalhadas. Por que será que tudo isso que está em jogo não consegue “mexer” mais com essa calmaria absurda de nossos dias? Porventura, conseguiram roubar de nós a esperança, os valores fundamentais, a fé que tínhamos em nossas utopias e viramos seres irracionalmente racionais?!
Hoje tomei conhecimento de um dos muitos episódios de violência que temos presenciado constantemente pela mídia. Vou transcrever a notícia reproduzida pelo “Revista Camocim” que descreve o ocorrido:
“Um crime bárbaro durante uma partida de futebol chocou o povoado de Centro do Meio, na zona rural da cidade de Pio XII, no Maranhão. A partida, realizada no último domingo, terminou com duas mortes por causa de um lance polêmico, segundo a Polícia Civil.
Durante a partida, Josenir Santos Abreu, 30 anos, teria sido expulso e, insatisfeito com a atitude do árbitro, teria dado início a uma luta corporal. Durante a agressão, o árbitro, Otávio Jordão da Silva, 20 anos, sacou uma faca da cintura e desferiu um golpe no peito do jogador, que foi socorrido, mas morreu a caminho do hospital.
Diante do ocorrido, jogadores e espectadores da partida se revoltaram com Otávio e o amarraram, dando início a uma série de agressões. Ele foi espancado e apedrejado, morrendo no local. Não satisfeitos, os populares ainda esquartejaram o corpo do árbitro e fincaram a cabeça da vítima em uma estaca”.
Fico estarrecido com isso!! O que leva alguém a esquartejar um ser humano? Que ódio tão grande é esse, capaz de nos fazer perder totalmente a sã consciência e a noção exata de nossas atitudes? Um tipo de cegueira se apoderou da espécie humana, animalizando-a, fazendo-a regredir e “involuir” no lugar de “evoluir”. Os bons cada vez mais silenciam, enquanto o mal avança inescrupulosamente.
Libertemo-nos desse entorpecimento e resgatemos o que nos é próprio, o princípio do cuidado, a beleza da vida e a fantástica experiência da empatia para com os que vivem ao nosso redor. Só assim, seremos de fato, seres humanos!!
“Essa dádiva que é viver, existir, construir-se, possibilitar-se... Verdadeiro regalo divino, tão nobre e sublime, a mais surpreendente experiência!”
“Essa dádiva que é viver, existir, construir-se, possibilitar-se... Verdadeiro regalo divino, tão nobre e sublime, a mais surpreendente experiência!”
Por César Rocha