JUSTIÇA PARA QUE E PARA QUEM? - Revista Camocim

terça-feira, 30 de abril de 2013

JUSTIÇA PARA QUE E PARA QUEM?



Em meio a tantos desalentos e frustrações temos a certeza de que a luta pela justiça é sempre oportuna e necessária, apesar dos revezes. Embora vivamos no reino da impunidade e da corrupção, numa sociedade profundamente desigual e excludente, ainda há sinais de esperança que nos consola e nos faz seguir em frente. Afinal de contas, somos brasileiros e dificilmente desistimos facilmente daquilo que acreditamos
A grande mudança começa com a tomada de consciência pessoal e comunitária, naquele instante em que fazemos a transição do senso comum para o senso crítico e retiramos as vendas da hipocrisia e da mentira que nos silenciaram há tanto tempo. Esse processo é lento e doloroso, mas de extrema importância. A prática da justiça e da equidade social deve ser fruto de um esforço coletivo e diuturno, da convergência de ideias, sonhos e ações daqueles e daquelas que ainda acreditam num país melhor, embora nem sempre seja fácil conjugar o verbo “acreditar”.
Nasci em uma cidade do interior do Ceará chamada Camocim, de beleza ímpar, a “princesa do mar”, como bem poetizou o autor do hino feito em sua homenagem, e lá vivi a maior parte de minha vida. Embora esteja residindo hoje em outro município, nunca deixei de acompanhá-la muito de perto, participando inclusive de algumas iniciativas que visam o seu pleno desenvolvimento e a emancipação de seu povo, minha gente. Por isso, entendo que não posso permanecer omisso e calado diante do abandono e da impunidade generalizadas que têm tomado proporções vultosas nesse município, já que o tema proposto nesse artigo é exatamente “JUSTIÇA PARA QUÊ E PARA QUEM?”
Na realidade, tudo começa com um processo eleitoral nitidamente irregular e imoral. Às vezes a injustiça se torna tão comum e trivial que acabamos nos acostumando com ela e adormecendo as nossas consciências. Todos nós nos lembramos da “pseuda” nação canarinha que invadiu literalmente as ruas e bairros de nossa pacata cidade, marcando uma presença audaciosa em todas as sessões eleitorais da zona urbana e rural, desrespeitando as normativas definidas pelo magistrado da cidade naquela ocasião. Uma verdadeira intimidação e provocação ao bom exercício da democracia. Ali, se percebia claramente os rumos daquela que deveria ser a festa da cidadania. Situação de caos e de baderna não contidas por NINGUÉM!!
Após a eleição, os desmandos continuaram e continuam. Perseguições arbitrárias, clientelismo, estado de calamidade política, abandono da cidade, aumento do desemprego, descaso com inúmeros jovens e pais de família que foram aprovados no último concurso público e nunca foram chamados ao justo exercício de suas funções públicas, enfim, prova viva de que em Camocim, dinheiro e poder compram tudo, inclusive a dignidade humana. Há um clamor incontido, uma insatisfação claramente percebida no semblante de grande parte dos camocinenses que ingenuamente acreditaram no slogan “Quem ama cuida!” ou mesmo nas promessas empolgantes e ardis de tantos candidatos e candidatas em épocas não tão distantes. A grande pergunta é: “Qual será o desfecho dessa história trágica e repetitiva?” Teremos uma reação firme e determinante em prol da decência que ainda resta ou mais uma vez veremos a justiça, privilegiar os que vivem na corrupção e na improbidade? Essa resposta parece ser imprescindível para que voltemos a dizer como em outras épocas: “vale a pena ser honesto e lutar pelo que é certo”.
 Outro dia, conversando com alguns bons amigos numa roda de conversa, ouvi esta observação no mínimo curiosa. Segundo a mitologia grega, a deusa Thêmis, representada na imagem de uma mulher com olhos vendados, tendo uma balança em uma das mãos e uma espada na outra, deveria ser o símbolo da verdade, imparcialidade e da honestidade que deveriam permear todas as decisões judiciais no Brasil e no mundo. Infelizmente, sofremos de uma doença degenerativa, chamada CORRUPÇÃO!! Essa ferida aberta acaba distorcendo os valores fundamentais que caracterizam uma autêntica democracia.
 Analisemos, pois, o que fizeram com a bela representação grega:
- A venda nos olhos, que outrora exprimia a imparcialidade na aplicabilidade das leis, hoje representa a vergonha inexprimível diante de tanta morosidade, imoralidade e indecência;
- A espada, símbolo do poder que deveria beneficiar os mais fracos e excluídos, retrata claramente quem são os grandes privilegiados pelo dinheiro e pela posição social. Manda quem pode, quem domina o tráfico de influências e não quem está ao lado da agonizante justiça;
- A balança, que no passado simbolizava o equilíbrio e a imparcialidade, há muito está pendida para o lado dos fracos e excluídos dessa nação. Sobre esses, pesa o rigor, a dureza e o cumprimento rigoroso da lei, segundo a interpretação de nossos impolutos magistrados, é claro!!!
 Triste constatação!! Que se multipliquem as nossas vaias e manifestações de indignação, mas acima de tudo, que cresça a nossa organização e conscientização.

Por César Augusto Rocha
PRESIDENTE DO CNLB - NE I