Começou a explicita ostentação
na cidade. Constantemente o aviãozinho sobe e desce, rasgando os céus, e das
alturas rumo a capital, ou a qualquer outro destino, A MULHER deslumbra o sofrido
proletariado terrestre, que tenta se
movimentar lastimosamente na cidade em estado deplorável. É nestas horas que a
mulher perde o senso de solidariedade para com os sofridos, que estão em terra, mas, sem muita firmeza, sufocados pelo lixo, caindo em buracos, na escuridão, desempregados
e sem salários.
Era um sábado qualquer e o
barulho dos motores do aviãozinho e seus ilustres passageiros zombavam da cara
dos que mal tinham para comer. Foi uma demonstração infeliz de poder. Poder
este, conferido pelo povo, que está para voar de fome e precisão. E há quem exclame: “olha o aviãozinho!” o
outro diz, “é a mulher nas alturas”.
Uma sensata senhora, de
semblante sério exclama: “este é o nosso dinheiro que literalmente está voando”!
E quem paga a conta?
Carlos Jardel

