Por Paulo Emanuel Lopes*
A economia brasileira caiu 4,1% em 2020 (1). Mas apesar da redução, o resultado foi “menos pior” que o esperado, já que o comércio precisou ser bastante reduzido para controlar a pandemia em 2020. A razão é que houve injeção de muito dinheiro pelo governo, tanto pelo auxílio emergencial quanto pelos gastos com a saúde.
Acontece que o governo não tinha dinheiro para o auxílio, então precisou pedir emprestado, pagando juros. Em janeiro deste ano, o país quebrou recorde de endividamento, e já deve ao mercado o equivalente a 90% de toda riqueza que nós produzimos em um ano (2).
Não, Bolsonaro não deve ser criticado pelo forte aumento em nossa dívida. Qualquer governante que se encontrasse ali, na cadeira de presidente, diante do maior desafio em saúde pública mundial que enfrentamos nos últimos 100 anos, teria adotado o mesmo caminho (e nisso eu me diferencio de parte da esquerda, que adora jogar pedras no Bolsonaro mas esquece que seguiam a mesma cartilha neoliberal e de compra de apoio no Congresso quando eram governo). Mas ele é, sim, RESPONSÁVEL PELO QUE NÃO ESTÁ FAZENDO para melhorar nossa situação.
Essa semana nós assistimos ao empresário e senador cearense Tasso Jereissati lançar espécie de apelo para que os senadores investigassem a (falta de?) atuação de Bolsonaro na pandemia. Não podemos chamar o senador de “petista”, então qual a razão para se levantar contra o presidente? A economia. Tasso e seus amigos riquíssimos sabem que a pandemia, acidente de percurso causado pela natureza, não poderia ser evitada, mas o Brasil podia estar bem melhor na condução dessa crise.
Bolsonaro nunca se importou em comprar vacina pra população. Já os Estados Unidos, seu ex amigo favorito, pretende vacinar toda sua população adulta até maio (4). Eu tenho um primo que mora em Londres, hoje ele está de quarentena em casa, mas já foi vacinado pelo governo e, em abril, a loja que gerencia volta a funcionar (assim como boa parte da economia inglesa). Israel também deve reabrir sua economia ainda esse semestre: metade da população do país já foi vacinada com a primeira dose, e um terço da nação já recebeu a segunda (5).
(Agora compare: até ontem, 04 de março, o Brasil havia vacinado apenas 3.62% de sua população (6).)
Sabe o que vai acontecer nesses países após a população terminar de ser vacinada? Todos vão poder sair às ruas, ir a festas, se abraçar, reencontrar amigos, gastar em restaurantes... E o dinheiro voltará a circular. E aqui no Brasil?
É isso que empresários como Tasso Jereissati estão observando: não querem a volta do PT, mas começam a observar que Bolsonaro dá muito mais prejuízo por não ter cuidado do Brasil no momento que nosso país mais precisou. Não estamos sendo vacinados na velocidade que gostaríamos. Enquanto o mundo se prepara para o crescimento pós pandemia, nosso país amarga lockdowns e recordes seguidos no número de mortos por conta da Covid-19.
E o que pensa nosso presidente sobre tudo isso que está acontecendo? “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?” (6), disse, enquanto a população que o elegeu enterra seus parentes e precisa escolher entre morrer de Covid-19 ou de fome.
*É jornalista. Escreve para o Revista Camocim às sextas.
(1) https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/03/03/pib-brasil-2020-ibge.htm#:~:text=O%20PIB%20(Produto%20Interno%20Bruto,alta%20de%204%2C6%25.
(4) https://www.dw.com/pt-br/o-que-se-pode-aprender-com-a-vacina%C3%A7%C3%A3o-em-israel/a-56588062
(6) "Mapa da vacinação contra Covid-19 no Brasil | Vacina | G1" https://especiais.g1.globo.com/bemestar/vacina/2021/mapa-brasil-vacina-covid/
