Os faróis cortam a escuridão da estrada de pedras, num zigue-zague pela Caatinga que só sabe fazer quem conhece, está acostumado. Visto de fora, é um caminhão-caçamba; de dentro, é uma caixa de ferro ambulante sacolejando com a sinuosidade e relevo da estrada, pronta para se desmontar ou cuspir alguém pela janela. Ou pela carroceria, onde estão três homens com pás; dentro, o motorista em mais uma madrugada de trabalho até a beira do rio. No retrovisor, um rosário; na cintura, um revólver, porque “o mal vem de qualquer lugar”. Nem sabe se ainda atira, mas na fé “acerta”. Chegamos ao destino. Gira a chave e, finalmente, o barulho infernal do motor respeita o silêncio da madrugada. Os faróis iluminam o alvo:
- Bora, negada, trabalhar!
Os três homens pulam da caçamba com a mesma naturalidade de um robô que atende a comandos e, sem falar nada, enfiam os pés e as pás no solo e arremessam a areia para dentro do veículo. Em 50 minutos fazem, em média, 350 arremessos cada um até encherem o vazio com três toneladas de grãos. Antes que amanheça, já estão todos de volta à estrada no rumo da cidade.
Pela encomenda, o caçambeiro recebe R$ 120. Tira R$ 10 para cada um dos pazeiros e fica com o restante. A loja de material de construção, que solicitou a carga, vende por R$ 400 ao cliente que encomendou “uma carrada de areia de lavada”. Ótima para fazer o piso da casa em construção. Assim, o minério no leito seco do rio Acaraú enche o alicerce da obra particular, afinal, dentre tantas coisas, é para isso que serve a areia.
Informações do Diário do Nordeste.