NÓDULOS OU DOR NOS TESTÍCULOS PODEM SIGNIFICAR CÂNCER. SAIBA MAIS - CAUSAS MAIS COMUNS - Revista Camocim

quarta-feira, 5 de junho de 2013

NÓDULOS OU DOR NOS TESTÍCULOS PODEM SIGNIFICAR CÂNCER. SAIBA MAIS - CAUSAS MAIS COMUNS

Escrito por Dr. Francisco Paulo da Fonseca

O câncer de testículo  é uma doença muito rara que ocorre em 2 a 3 casos a cada 100.000 homens na população, com maior incidência em brancos do que em negros. Não raramente um médico pode nunca ter visto um caso na sua vida profissional e até um especialista pode ver poucos casos durante sua vida.
Apesar disso, é necessário estudar bem a situação para que se possa tratar o paciente sem erros no diagnóstico ou no planejamento terapêutico, o que pode comprometer o sucesso do tratamento e diminuir a chance de cura.
"Hoje em dia, há um planejamento padrão para que se trate o paciente com o máximo de eficiência. As sociedades de especialistas têm normas para diagnóstico e tratamento muito bem estabelecidas, sendo que o tratamento pode ser multidisciplinar, exigindo a competência do cirurgião (urologista ou cirurgião oncológico, oncologista clínico e o radioterapeuta). Vale ressaltar que pacientes que usaram maconha são reconhecidos como pacientes que têm o dobro de risco para desenvolverem câncer de testículo", afirma o médico urologista Francisco Paulo da Fonseca.
Saiba mais sobre os sintomas de nódulos e dor nos testículos e tire suas dúvidas sobre o tema na entrevista completa com o especialista. (Clique abaixo no link 'mais informações')

 Os nódulos nos testículos, quando aparecem, são acompanhados de dor ou não necessariamente?
Não necessariamente. Porém, massa no testículo, sem dor ou com discreta sensação de dor, deve ser entendida como câncer de testículo. Um nódulo no testículo deve ser considerado câncer de testículo até prova do contrário, principalmente em homens dos 15 aos 35 anos, já que é o câncer mais frequente nessa faixa etária.
Geralmente, os pacientes relatam aumento progressivo do testículo e, na maioria das vezes, em semanas ou meses. Outras manifestações importantes associadas a esse diagnóstico são a massa palpável abdominal ou aumento súbito do volume abdominal, que também devem ser investigadas acerca de câncer de testículo. Geralmente, a causa da massa abdominal é de origem testicular e isso ocorre porque esse câncer causa metástase para o retroperitônio. Pode existir massa abdominal de causa tumoral testicular, sem que seja encontrada uma lesão primária no testículo. Esses sintomas, frequentemente, se confundem com outras urgências médicas, daí a importância do diagnóstico, especialmente do urologista.

Quais são as causas mais comuns do aparecimento desses nódulos, quando acompanhados de dor?
Quando um paciente tem dor aguda e de forte intensidade, devemos suspeitar de que algo ocorreu de causa inflamatória ou isquêmica, ou seja, pode ter ocorrido uma torção do testículo, o que representa uma urgência médica, pois o paciente deverá ser operado em menos de 6 horas para que se possa salvar o testículo que está sem suprimento sanguíneo.
Outra doença testicular é a orquite, uma doença inflamatória que pode envolver outras estruturas, como o epidídimo (neste caso, denominada orquididimite). Tem causa viral ou bacteriana, esta proveniente de infecção ascendente, de infecção do trato urinário ou decorrente de contaminação sexualmente transmissível.
É preciso que se entenda, entretanto, que aumento indolor ou pouco doloroso do testículo deve ser considerado câncer de testículo, até prova do contrário. O caráter educacional é fundamental, principalmente entre os adolescentes, que, frequentemente, demoram a referir o problema aos familiares, por vergonha ou constrangimento.

E quando esses nódulos aparecem sem dor, quais podem ser algumas das principais causas?
Nódulos indolores podem representar outras doenças que podem não ter nenhuma repercussão clínica e que, muitas vezes, requerem apenas tratamento clínico. É muito frequente o diagnóstico de cisto de epidídimo, que raramente deve ser tratado cirurgicamente, e, quando isso ocorre, deve-se à sensibilidade aumentada na bolsa escrotal, que piora durante relação sexual ou por volume mais significativo. O diagnóstico é simples e pode ser constatado por uma ultrassonografia. Nas crianças, muitos dos nódulos nos testículos são causados por doença benigna (teratomas).

Como pode ser feito o autoexame? Se for detectado algo estranho, qual deve ser o procedimento?
O autoexame pode ser realizado durante o banho, pela palpação do testículo, quando é possível detectar alterações de consistência, volume ou de peso. Outra forma é pela simples inspeção na frente do espelho, onde se observa aumento e/ou assimetria das gônadas. A conduta correta deve ser a imediata avaliação por um urologista.

Diagnóstico precoce: qual é a importância?
Quanto mais precoce for o diagnóstico, menor a extensão da doença, mais fácil e eficaz o tratamento e maior a chance de cura. Em casos mais avançados, com diagnóstico tardio, o tratamento será mais agressivo, podendo causar efeitos futuros indesejáveis pelo uso das drogas utilizadas no tratamento.
O tratamento inicial dos pacientes deve ser feito com a remoção total do testículo, o que chamamos de orquiectomia radical (remoção do testículo, epidídimos e do cordão espermático, sempre feita por via inguinal), e, na mesma cirurgia, pode-se implantar próteses testiculares com excelente resultado estético.

Fatores como histórico familiar e tumor prévio podem ser de risco para o surgimento de câncer no local?
Quem tem parente portador de câncer de testículo é paciente considerado de alto risco, pois, se o pai teve câncer de testículo, o risco do filho é de 4 a 6 vezes maior, e se o irmão teve, o risco é de 6 a 8 vezes. O paciente que já teve câncer em um dos testículos também deve ser considerado paciente de alto risco e estes devem ser orientados para que, a qualquer anormalidade observada no testículo remanescente, procurem seu médico para afastar o diagnóstico de um novo câncer na gônada remanescente.
Normalmente, o portador de câncer de testículo é acompanhado por pelo menos 5 anos, com retornos periódicos durante este seguimento, pois pode ocorrer segundo tumor primário até 10 anos após diagnóstico inicial. O paciente será sempre considerado de risco para desenvolver a doença, que ocorre geralmente em testículos disgenéticos (com alterações na sua embriogênese) ou hipotróficos (diminuídos no seu volume). Esses pacientes costumam consultar especialistas em clínicas de infertilidade.
Outras causas importantes são pacientes que nasceram com criptorquidia (testículo que não desce para a bolsa testicular), com risco de 1,5 até 9,8 vezes; portadores de HIV; portadores da síndrome de Klinefelter (doença por erro genético na embriogênese) e diagnosticados com a sua doença precursora, chamada de TIN (doença ainda em sua fase microscópica).
Por fim, gostaria de enfatizar que a educação é um passo primordial para que se possa promover a saúde universal à população, podendo interferir no diagnóstico precoce e no maior índice de cura para qualquer tratamento de doença.

Dr. Francisco Paulo da Fonseca é graduado em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1982), residência médica em Cirurgia Geral no Hospital Municipal Cármino Caricchio, São Paulo (1984), com especialização em Urologia (1987), mestrado (1999) e doutorado (2002) em Oncologia pela Universidade de São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Urologia desde 1987, Sociedade Americana de Urologia desde 1996 e da Sociedade Europeia de Urologia desde 2011. Professor universitário da cadeira de Urologia da Faculdade de Ciências Médicas de Mogi das Cruzes, de 2001 até 2004. Trabalhou no Hospital A. C. Camargo, no Serviço de Urologia do Departamento de Cirurgia Pélvica, de 1987 até 7/2012. Experiência em urologia geral, com ênfase em câncer urológico, especialmente de próstata, bexiga, rim, testículo e pênis. Professor de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade 9 de Julho (UNINOVE), desde 23/8/2012.