O cantor Nattan errou. E errou feio. - Revista Camocim

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

O cantor Nattan errou. E errou feio.


Engrossando o debate , sobre o episódio ocorrido durante um show em São Lourenço da Mata, em Pernambuco, em que o cantor Nattan resolveu “brincar” oferecendo R$ 1 mil pra que um homem da plateia beijasse uma mulher com nanismo que estava em cima de um caixote no palco. Como se fosse parte de um jogo, uma aposta, uma atração, digo: ele errou e errou feio! Dois caras se recusaram. Um cinegrafista topou. O que era pra ser “divertido” virou constrangimento e dos grandes ao vivo.


A cena foi grotesca, desumana, e como apontou a Associação Nanismo Brasil, capacitista.


Capacitismo?


Capacitismo é o preconceito contra pessoas com deficiência. É quando se trata alguém como inferior, como se não tivesse valor próprio, como se fosse frágil, “diferente demais” ou até piada.


No caso do Nattan, a mulher foi tratada como um objeto de curiosidade. Como se um beijo nela só pudesse acontecer se alguém fosse pago pra isso. Como se ela não tivesse valor como mulher, como pessoa. Como se fosse um desafio, e não alguém com dignidade.


Mais do que isso, o que se viu ali foi a objetificação do ser humano, reduzido a um espetáculo, a um corpo manipulado para provocar risos, choque ou engajamento. Foi justamente sobre isso que o filósofo brasileiro Vladimir Safatle já alertou, ao dizer que “a sociedade do espetáculo não apenas encena violências, ela as normaliza, transforma em entretenimento e lucra com isso”.


E não adianta vir com desculpa de que "faz com todo mundo".


Não faz. E mesmo que fizesse, não é “igual pra todo mundo” quando se está falando de alguém que carrega, todos os dias, o peso do preconceito.


"Carlos Jardel, já fizeram piada comigo hoje, perguntando quanto eu estou oferecendo para ser beijada", revelou uma amiga com nanismo, já sentindo o peso da "brincadeira"  de mil reais do cantor. 


Nattan tem voz, tem palco e tem responsabilidade. O que ele fez não foi brincadeira. Foi exposição. Foi capacitismo. Foi feio.


E agora, não adianta dizer que foi mal interpretado.


Tem que reconhecer o erro, se retratar com sinceridade e aprender.


Porque em 2025, o palco não pode mais ser espaço de humilhação disfarçada de diversão.


A dignidade humana não é entretenimento.


Carlos Jardel