POETA FALA SOBRE OS MOTIVOS QUE EXTINGUIRAM GRÊMIO LITERÁRIO E JORNAL O LITERÁRIO DE CAMOCIM - Revista Camocim

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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

POETA FALA SOBRE OS MOTIVOS QUE EXTINGUIRAM GRÊMIO LITERÁRIO E JORNAL O LITERÁRIO DE CAMOCIM

"Movimento paralelo" teria sido criado para "rachar" o grêmio literário. 

O poeta e escritor camocinense, Raimundo Bento Sotero, conta parte da trajetória do extinto Grêmio Literário de Camocim e do jornal O Literário, que tiveram grande e positiva repercussão na cidade com circulação em outros  estados e países, difundindo a cultura camocinense.  O poeta, relata que sua extinção se deu por conta da criação de outra agremiação paralela que teve o intuito de rachar com o Grêmio.

" (...) A cidade tinha seus donos e estes, por certo, se sentindo incomodados com as edições, pois não eram donos da gente e talvez muitas das crônicas os espinhassem...criaram um movimento paralelo, para rachar o nosso grupo; um movimento ruidoso, festivo e com nomes de peso no cenário literário cearense e até mesmo no cenário literário nacional e isto, como faz a luz à mariposa, atraiu o mais dos nossos literatos, morrendo à míngua nossa agremiação", relata Sotero.

Confira a postagem na íntegra:

"Meus amigos, bom dia! Falar em Cultura, ou falta dela, o Grêmio Literário Ivan Pereira de Carvalho atuou ativamente em nossa cidade por mais de 10 anos, tempo em que produziu e difundiu nossa cultura, através do seu noticioso o Literário, jornal mensal com tiragem de um milheiro de cópias, sendo parte destas distribuída gratuitamente na cidade, servindo, porém, algumas delas como papel de embrulho e outros fins menos nobres na mão de falsos leitores; mas, a despeito disto, muitos ansiavam pela boa leitura e, assim, alguns exemplares eram remetidos para outros Estados, principalmente para o Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde havia assíduos leitores, sendo um deles aquele senhor que implantou o MOBRAL em nosso país, segundo ele mesmo me disse um dia, quando fiz uma visita ao meu amigo Olivar no Rio. Também mandávamos algumas cópias para o estrangeiro, principalmente para Nova Iorque, Inglaterra, Portugal e Cabo Verde, onde um dia o então presidente da república, o senhor Fernando Henrique, em visita a uma escola daquele país, admirou-se de encontrar um jornal brasileiro por distante paragem, disse isto, orgulhoso, exibindo-o às câmeras de televisão. Foi nosso momento de glória.

Como se viu pelo exposto, o Literário fazia sucesso entre os leitores brasileiros, como também os do estrangeiro, sendo, inclusive, cobrado por muitos quando atrasava um pouco sua tiragem, o que mostrava nossa força na área cultural de então, pois produzíamos um jornal de agradável leitura, aliás, modéstia à parte, leitura de primeira grandeza, recheado que era de crônicas, contos, causos, poesias etc. tudo da nossa lavra, tudo criado e escrito aqui, pelos nossos literatos, entre eles destacando-se Avelar Santos, um cronista de mão cheia; Aradi Silva; Artur Queirós, de um estilo que era só dele; Inácio Santos, outro monstro da crônica; Raimundo Silva, profundo conhecedor do nosso idioma, portanto revisor; BMota; o inconfundível JR; R.B.Sotero, este que escreve tão mal traçadas linhas; RPires, que punha tudo na internet – vale dizer que naquele tempo a internet ainda engatinhava e a cidade de Camocim foi pioneira nesta novidade; todos nós capitaneados pela presidente Ana Maria, alcunhada de a Mãe da Cultura e depois pela distinta Leopoldina Santos, presidente até a extinção do grêmio, o que se deu por inanição, findando-se assim como se fina uma criança esquálida em seu leito de morte, ou como o gado se some em seu magrém!

Como se viu pelo que foi dito, o grêmio literário produziu muito e produziu com qualidade, prova disto é que o cronista Roberto Pires, ou RPires como gostava de ser chamado, ganhou o prêmio Ideal Club de Literatura, então a maior comenda literária cearense, prêmio em que não logrei êxito, em futura edição, pois concorri com o poema Trem de Saudade e os jurados me disseram que não fui vencedor naquela edição, porque particularizei meu trem, o qual deveria ser universal. Ora e poderia haver graça num trem de outro lugar, senão no meu trem de Camocim? Pelo que me disseram, me senti vitorioso e isto não me fez mal, pois logo em seguida participei no XIII Concurso Nacional de Poesia, em Brasília, concorrendo com o soneto O Amor e o Amar e fui vencedor entre 5.144 poetas do Brasil inteiro!

Meus amigos, pelo carinho dos leitores, pela fecunda lavra da nossa seara poética, pelos prêmios recebidos, pelas teses defendidas por vários formandos, tendo como tema o Literário...por tudo enfim, seria natural, como era de se esperar, que o grêmio literário não tivesse mais fim; mas não foi o que aconteceu, pois a cidade tinha seus donos e estes, por certo, se sentindo incomodados com as edições, pois não eram donos da gente e talvez muitas das crônicas os espinhassem, pois a literatura o mais das vezes fere, para tanto se fazendo arisca, fugaz e e por vezes se escamoteia para livrar-se disto e daquilo, então logo criaram um movimento paralelo, para rachar o nosso grupo; um movimento ruidoso, festivo e com nomes de peso no cenário literário cearense e até mesmo no cenário literário nacional e isto, como faz a luz à mariposa, atraiu o mais dos nossos literatos, morrendo à míngua nossa agremiação. Isto, meus amigos, fez mais mal do que bem à nossa cidade, pois a nova agremiação, com seus membros, pouco ou nada produziu em termo de literatura, resumindo-se mais a festas e quase nada de produção literária, pois tais literatos, talvez pela importância que têm, parecem dar pouca ou nenhuma importância à agremiação que os congrega e, assim, pouco ou nada têm feito pelo engrandecimento da nossa cultura, esta que agora tem dono! 

Em tempo, queira desculpar-me quem acaso se importuna com este texto mais besta!"