NOVELA PRO BRASIL - Revista Camocim

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terça-feira, 6 de outubro de 2015

NOVELA PRO BRASIL


por Júnior Santiago

Fazer novela no Brasil é uma arte. O mundo inteiro reconhece que esse gênero é algo que o brasileiro entende perfeitamente, não à toa as novelas feitas em nossas terras são exportadas para vários países. Elas mostram o que temos de melhor: a capacidade de transformar o cotidiano em arte ou o contrário, mostrar a arte escondida no cotidiano. 

Desde que me entendo por gente vejo novela na TV e ouço as pessoas mais velhas dizerem qual a sua novela preferida etc. Minha novela preferida é “Força de Um Desejo” de 1999, todavia lembro que em 1990 eu via a novela “Rainha da Sucata” de Silvio de Abreu, em 1991 via “Vamp” de Antônio Calmon, em 1992 assistia “Barriga de Aluguel” de Glória Perez, em 1993 acompanhava “O Mapa da Mina” de Cassiano Gabus Mendes, 1994 não perdia um só capítulo de “Quatro por Quatro” de Carlos Lombardi. Enfim, tenho nas mais tenras memórias histórias novelescas.

Contudo, percebo que mais do que entretenimento a novela serve também como crítica social, meio de informação e esclarecimento vide os casos de: “Explode Coração” que expos casos reais de mães com filhos desaparecidos; “Laços de Família” que mostrou e informou sobre leucemia; “O Clone” que abordou as questões éticas que se tem ao lidar com células humanas, religião e culturas opostas; “Vale Tudo” primeira novela a mostrar o lado corrupto do Brasil; “Lado a Lado” mostrou de maneira mais histórica a formação das favelas e do samba em nosso país e o papel do negro em uma realidade pós-escravidão oficial; nesse ano “Verdades Secretas” mostrou de maneira crua e direta o submundo da indústria da moda. E exemplos existem aos montes.

Esses são apenas alguns casos de como é importante prestar atenção em novelas. Não tenho vergonha alguma em admitir que gosto desse gênero de expressão de arte. Quando fazia faculdade de filosofia não era raro escutar que eu deveria encontrar “algo de mais útil para fazer” eu ria e dizia que era melhor ver novela do que falar da vida dos outros. Gosto de ver novela porque é um produto aberto e mostra como anda nosso país acerca de certos assuntos que atingem a nossa sociedade brasileira. E de como reagimos diante daquilo que nos é exposto.

O último exemplo foi em “Babilônia” que causou furor nas redes sociais e ojeriza na área mais “tradicional da família brasileira”. E digo que me surpreendi com a comoção e reações diante de todo o contexto colocado à disposição do telespectador. Os olhares mais rasos podem pensar que foi o fato do beijo ocorrido entre as atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Thimberg, realmente foi um choque e isso serviu de desculpa para os ataques ao folhetim. 

No entanto, minha análise é outra bem diferente. Creio que a repulsa feita à trama assinada por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, se deve aos temas pesados (prostitutas, proxenetas, ninfomaníacos, amorais, crimes de colarinho banco, impunidades, disputas de poder, chantagens, assassinatos, corrupção, etc.) que seriam abordados pelos os autores maneira direta sem meios termos, porém ao longo dos capítulos tiveram que atenuar as histórias ou até mesmo deixar de abordá-las para “agradar” o público. 

Ainda que tenham pessoas que possam dizer que temas como esses já foram colocados em novelas antes e nem por isso houve tamanha rejeição. Contudo, sempre era um assunto polêmico de cada vez, expor todos na mesma história ainda era algo inédito e duvido que tenham sido tão explícitos como os corajosos autores tentaram fazer. Normalmente o assunto polêmico é colocado entrelinha no começo, exposto aos poucos, ou seja, preparava-se o terreno antes; no caso de “Babilônia” não aconteceu nada disso, apenas tudo foi jogado no ventilador sem dó nem piedade, realmente um risco muito grande. Não pretendo levantar bandeira a favor ou contra a novela, nada disso; prefiro que as pessoas pensem por conta própria independente se concordam ou não comigo.

Autonomia é algo raro em nossa sociedade arbitrária e maniqueísta. Por isso considero importante filtrar, analisar, refletir sobre tudo aquilo que nos dão como algo pronto e acabado. A verdadeira novela da vida real é construída passo a passo, capítulo por capítulo. Nós somos os autores de nossas próprias novelas, independente do título. Por isso prefiro deixar o conservadorismo de lado e colocar as vísceras da emoção no palco e vivenciar o que é preciso viver. 

Júnior Santiago é camocinense, graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula.