COISIFICAÇÃO DO SER HUMANO E HUMANIZAÇÃO DAS COISAS - Revista Camocim

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quinta-feira, 24 de abril de 2014

COISIFICAÇÃO DO SER HUMANO E HUMANIZAÇÃO DAS COISAS

Por César Augusto Rocha


O ser humano, ápice da criação divina, foi feito para brilhar e resplandecer dentre todas as demais criaturas já que fora moldado à imagem e semelhança de Deus. Vocacionados para a transcendência e constituídos da mais alta dignidade, fomos dotados de razão, inteligência e liberdade para vivermos em uma autêntica fraternidade universal. Sobre esse atributo próprio do ser humano – a dignidade - Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII, afirmou categoricamente: "No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade."

Esse é o fim para a qual fomos criados! Todavia, mais uma vez rompemos com o projeto original de Deus e nos afastamos de seus desígnios. Na contemporaneidade, vivemos um processo selvagem de “coisificação do ser humano e humanização das coisas”, ou seja, o homem criado para amar as pessoas e usufruir dos bens materiais para o seu pleno desenvolvimento, vai gradativamente invertendo essa relação e assim, perde a sua identidade existencial e mergulha num estado de profunda alienação social e religiosa onde ele se torna estranho para si próprio. Um exemplo claro disso, é a problemática do TRÁFICO HUMANO abordada pela Campanha da Fraternidade em 2014.

Por Tráfico Humano, entende-se:

“o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamento ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração.” (Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à Prevenção, repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças).

Enquanto Igreja, como podemos combater essa mazela social que movimenta cerca de 32 bilhões de dólares por ano no Brasil? Qual é o nosso papel diante dessa conjuntura? Entendo que o primeiro passo é a conscientização pessoal e comunitária que passa necessariamente pelo resgate do valor inviolável da vida e pelo rompimento com a ideologia do descartável. Nesta sociedade do descartável, onde tudo é extremamente pragmático e cheio de objetividade, os laços duradouros do amor, da ternura e do aconchego vão aos poucos deixando de existir. Na realidade, nada em tempos como esse, foi feito para durar muito tempo! Nessa dimensão, como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman, vão surgindo dois tipos de relacionamento: os chamados “relacionamentos de bolso”, práticos, sempre ao nosso alcance, daqueles que posso dispor sempre que eu achar necessário e os “relacionamentos virtuais”, que aparecem e desaparecem com a mesma velocidade das novas tecnologias, fáceis de manusear e de certa forma, descomprometidos, pelo menos no que se refere ao envolvimento presencial.

E finalmente, é necessário trabalhar a prevenção e o exercício da dimensão profética de nosso batismo. Sem profetismo não há cristianismo! A Igreja não deve assumir o lugar do Estado naquilo que lhe compete, mas pode e deve cobrar uma atuação mais qualificada e eficiente de seus mecanismos de repressão ao crime. Os cristãos leigos e leigas, inseridos nas diferentes realidades sociais, devem ser os artífices dessa transformação social, assumindo o seu lugar junto aos pobres e as vítimas do tráfico humano. Certamente, se saíssemos um pouco dos templos e de nossas pastorais de manutenção, conseguiríamos avançar muito mais na construção do Reino de Deus, síntese de toda a pregação de Jesus.